Inglês cria formas que dançam sob superfícies feitas de metal e plástico

Artista Tony Cragg monta exposição com esculturas produzidas a partir de pilhas de pedra e chapas de madeira

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Escultura de Tony Cragg em exposição no MuBE

Escultura de Tony Cragg em exposição no MuBE Divulação

São Paulo

Não confie na sua mãe. Esse é um conselho bem-humorado que Tony Cragg, veterano escultor britânico hoje residente na Alemanha, dá ao final de uma entrevista no MuBE, onde uma mostra com obras suas, “Espécies Raras”, será inaugurada neste fim de semana.

Acontece que, quando ele era um menino de sete anos ainda, sua mãe resolveu jogar no jardim de sua casa os fósseis que ele estava guardando e que o inspirariam em uma longeva produção artística. 

A identidade visual de Cragg foi se calcificando em torno de formas orgânicas como aquelas, volumes que fazem lembrar cascas, ossaturas, invólucros de animais e outras criações inexatas da natureza.

A mostra reúne esculturas de bronze, resina, cerâmica, plástico, vidro —43 delas presentes na mostra ao lado de 70 desenhos— que foram produzidas por ele desde os anos 1980 e que pertencem hoje à sua coleção pessoal.

Muitas das esculturas são criadas a partir de uma organização volumétrica que utiliza materiais minerais 
ou chapas de madeira. 

Ordenadas verticalmente, horizontalmente ou obliquamente, esses volumes são, em geral, revestidos de materiais metálicos ou sintéticos. 

Cria-se uma pele, e são essas peles ou invólucros que o visitante verá espalhados pelo espaço do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia.

A Dan Galeria, que representa o artista no Brasil, é responsável por trazê-lo e pela organização da itinerância da mostra em museus do país. A Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, estão na lista dos que receberão a mostra no ano que vem.

Diante de duas obras em que os ângulos retos quebram a prevalência das formas orgânicas de outras peças, Cragg recusa o uso da palavra “representação”.

“Elas não representam, elas são”, diz o artista. Ele defende uma espécie de memória viva para matérias a priori inanimadas. Cria “morfologias” que “não pegam a realidade da forma que conhecemos”, mas cria “novas formas que existem entre matérias e os objetos”, diz. 

A preferência pelos revestimentos de bronze é porque o metal, aquecido, se torna “mais líquido do que água e permite fazer tipos polimórficos de naturezas diversas”.

“O que é a causa das formas que nós observamos nas superfícies?”, questiona o artista, expandindo sua pergunta inclusive para camadas de cimento, alvenaria e outros materiais que dão forma uma cidade inteira.” Qual é a geologia debaixo de São Paulo? O que a gente vê na superfície é a expressão de coisas internas e do tempo”, prossegue. 

“Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito na inteligência que se expressa nas coisas materiais. Por isso sou escultor. Entendi isso quando era um garoto de sete anos”, continua, agora em referência ao episódio em que, ao lado de seu irmão, encontrou o primeiro fóssil de sua coleção. “Sim aquilo se relaciona com todo o meu trabalho”, diz.

Também cabem nesse processo as criações que partem de formas mais geométricas e exatas produzidas a partir de produtos industriais. 

Na mostra estão “Minster” (1988), feita de anéis e engrenagens de aço, e “Eroded Landscape” (1999), construída por várias camadas de objetos de vidro como copos, vasos, lustres, garrafas.

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