O ano de 2017 marcou uma inflexão na obra da artista plástica Rose Klabin.
Recém-separada, em crise com a maternidade e com a própria obra, a carioca radicada em São Paulo há uma década conta que decidiu se afastar da cena artística para se dedicar a seu ateliê por um ano e meio.
"Foi um vômito", diz sobre os trabalhos que criou no período. Esculpidos em mármore, corpos flácidos, disformes, repousavam em amontoados de sucata industrial e eram refletidos num espelho d'água numa instalação montada em sua própria casa, no bairro paulistano de Cidade Jardim.
Klabin conta que, então, não fazia sentido retirar as obras de seu universo privado, embora elas agora apareçam numa mostra no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, o Mamam, no Recife.
O livro que ela lança agora em São Paulo representa uma espécie de fechamento desse ciclo pessoal de redescobertas.
Nele, revisita os últimos dez anos de trabalho, começando no presente —uma fotografia em que, nua, se banha em areia— e terminando com uma performance de dez anos atrás em que confrontava o mercado em plena feira SP-Arte.
Imagens dos trabalhos são complementadas por textos de curadores como Douglas de Freitas (também organizador do livro) e Fernanda Lopes, do Instituto Inhotim e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O caminho traçado pela publicação é o mesmo que suas esculturas de mármore já prenunciavam, de um afastamento da arte conceitual que dominou o início de sua carreira em direção à materialidade.
"Estava desenvolvendo um trabalho extremamente acadêmico, cerebral, e tinha começado a perder o prazer. Daí um desejo muito instintivo de começar a trabalhar com mármore, barro, matérias orgânicas, e com representação figurativa."
Mas alguns elementos se repetem em todas as suas obras.
São eles uma espécie de performatividade, presente mesmo em trabalhos em que o corpo não aparece, e as referências à indústria --as últimas se relacionam à biografia de Klabin, cuja família é dona da maior produtora e exportadora de papéis do país. Além deles, o embate entre conceitos e materiais é outro denominador comum em sua trajetória.
Daqui em diante, a artista diz que espera voltar a trabalhar a questão do corpo feminino, desta vez discutindo a maternidade. E que deve continuar a pôr a mão na massa, se afastando da fotografia que serviu de suporte para grande parte de suas obras até hoje.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.