Alberto Santos Dumont é uma figura ímpar da nossa história. Venerado no Brasil (e só por aqui) como o pai da aviação, seu nome batizou um dos aeroportos mais movimentados do país e sua efígie adornava as velhas cédulas de 10 cruzeiros.

No entanto, sua vida permanece um mistério para a maioria dos brasileiros. Durante muito tempo, ensinavam nas escolas que Santos Dumont havia morrido “de desgosto”, depois de ver os aviões sendo usados como máquinas de guerra. Só mais recentemente é que o seu suicídio por enforcamento, num hotel no Guarujá, no litoral paulista, deixou de ser um quase segredo.

Esse personagem tão rico também foi pouco aproveitado pelo nosso audiovisual. Santos Dumont aparece brevemente na minissérie “Um Só Coração”, levada ao ar pela Globo há 15 anos, interpretado por Cássio Scapin. Mas, até agora, não existia um filme de ficção ou uma série de televisão que contemplasse toda a sua trajetória.

Essa lacuna começa a ser preenchida por “Santos Dumont”, minissérie em seis episódios que estreia neste domingo (10) na HBO. É uma superprodução, com minuciosa reconstituição de época e efeitos especiais ainda raros na televisão brasileira.

Balões, dirigíveis e trens foram criados em computação gráfica. Paris e seus arredores também, de maneira bastante convincente (a série não teve locações no exterior).

O primeiro capítulo alterna cenas da infância de Santos Dumont, na fazenda de café da família em Ribeirão Preto, no interior paulista, com outras dele já adulto, vivendo na França como uma espécie de playboy esclarecido. A frivolidade dos salões da belle époque faz um contraste curioso com o interesse por mecânica e aerodinâmica do inventor diletante.

O ator João Pedro Zappa surpreende no papel principal. Primeiro, por parecer jovem demais. Estamos acostumados ao Santos Dumont de meia-idade, de olhar tristonho e chapéu desabado, esquecendo que ele tinha só 25 anos de idade quando surpreendeu os parisienses com suas subidas de balão.

Zappa também fala francês com fluência e ótima pronúncia. Para tanto, teve que mergulhar num curso
intensivo de cinco meses —nunca havia estudado o idioma antes de ser escalado para a nova série.
“Santos Dumont” deixa claro que a origem privilegiada e o fácil acesso à mais avançada tecnologia da época foram fundamentais para o êxito de seu protagonista. Não estamos diante de uma história de superação, em que o herói vem do nada e vence obstáculos aparentemente intransponíveis.

Mas a disposição de Dumont em ir contra as barreiras, fossem elas vindas das autoridades francesas ou de seu próprio entorno familiar, também é destacada no episódio de estreia. Sem determinação e ousadia, ele jamais sairia do chão.

Mesmo assim, faltam fortes emoções ao começo de “Santos Dumont”. Resta saber se elas virão nos próximos episódios —os produtores já avisaram que não irão abordar a sexualidade do personagem (alguns historiadores defendem que ele era gay), por considerar isso irrelevante à sua obra.

Com produção da Pindorama Filmes, direção de Estevão Ciavatta e Fernando Acquarone e roteiros de Pedro Motta Gueiros e Gabriel Mariani Flaksman, “Santos Dumont” está sendo lançada simultaneamente em toda a América Latina e Caribe. Mais tarde, a HBO também exibirá a minissérie no resto do mundo.

É de se esperar que tanta exposição torne Alberto Santos Dumont mais conhecido fora do Brasil e, talvez, reconhecido como um dos pioneiros da aviação. Aliás, também por aqui precisamos saber mais sobre ele.