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The New York Times

Com a morte de Juice WRLD, rap de Soundcloud chega ao fim

Era o movimento musical mais promissor da década

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Jon Caramanica
The New York Times

No ano passado, Juice WRLD emergiu como a maior esperança do rap, e também como autor de seu obituário.

Na manhã de domingo (8), Juice WRLD morreu repentinamente em Oak Lawn, Illinois. Ele tinha 21 anos.

Juice WRLD, XXXtentacion, Lil Peep: juntos, os três artistas, que começaram a lançar música quando adolescentes, contam a história de um som que começou como movimento renegado mas estava começando a encontrar maneiras de reordenar o cerne da música pop. 

A partir de 2015, o hip-hop que emergiu no SoundCloud —com vigor importado do pop-punk e da música emo, e incorporando rap e canto—provou ser emocionalmente cortante mas também melódico de um jeito sorrateiro. 

Parecia uma ruptura que realinharia o hip-hop com o seu lado mais cru, mas também, graças à continuidade da internet, empurraria aquelas canções trágicas em direção ao centro do pop. Os três artistas, mais do que quaisquer de seus contemporâneos, incorporavam as ambições e o potencial daquele som.

Mas a cena já estava se desintegrando, tão rápido quanto vinha sendo construída. Lil Peep morreu de uma overdose acidental de drogas em 2017, aos 21 anos. XXXtentacion tinha 20 anos ao ser morto a tiros no estacionamento de uma loja na Flórida. Com a morte de Juice WRLD, a mistura distorcida de canto e rap, ostentação e dor que dava forma ao rap do SoundCloud parece ter chegado ao seu terrível fim. Como é que algo tão poderoso e radical implodiu tão rápido?

É terrível saber que há sistemas em ação para extrair rapidamente o máximo valor da arte produzida por criadores, mas sistema algum para protegê-los contra os desafios que o sucesso rápido pode trazer. 

Juice WRLD capturou esse cabo de guerra melhor que seus pares. Era um rapper versátil, escolado em música pop e emo, e tinha os fundamentos mais sólidos de hip-hop. Na sua música, o conforto nunca estava mais perto do que as drogas. Ele quase sempre soava como se estivesse procurando uma saída.

“Bad Vibes Forever”, descrito como o álbum final de XXXtentacion, saiu na sexta (6). O trabalho oferece rascunhos promissores de canções e apresenta colaborações com artistas mais estabelecidos, entre os quais Rick Ross e Blink 182. Dois anos atrás, canções como essas teriam soado improváveis, mas em parte por conta do sucesso de que Juice WRLD desfrutou em outros gêneros de música —ele gravou com Ellie Goulding e Brendon Urie.

Mais ou menos na mesma época em que XXXtentacion começava a ganhar popularidade, Lil Peep estava trabalhando em um território musical parecido, mas com mais ênfase no canto. 

Ao contrário de XXXtentacion, que gostava de exibir seu lado abrasivo, Lil Peep soava como astro pop completo praticamente desde o começo. E a única coisa que desacelerou sua ascensão foi o fato de que ele veio de uma cena sobre a qual ninguém sabia grande coisa. Um império estava sendo construído sobre seus ombros, mas Lil Peep estava entrando em colapso.

O negócio da música computa sucessos, reproduções online, vendas e lucros, mas em geral não oferece os instrumentos extramusicais necessários para que os músicos enfrentem os percalços do sucesso. Não existe uma cena, um som, um movimento sem músicos, mas eles não têm sindicato, não têm recursos centralizados para ajudá-los a se cuidar. Só a exigência de que trabalhem mais e façam mais.

A era do rap de SoundCloud, no passado imensamente promissora, acabou. Quando o pior acontece, não existem números que possam fazer com que a ascensão valha a queda.

Tradução de Paulo Migliacci

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