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Artes Cênicas

Espírito livre de Frida Kahlo contrasta com rigor excessivo de peça sobre a artista

O espetáculo 'Frida Kahlo - Viva la Vida' compreende dualismo da mexicana, que convivia com festa e tragédia

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Frida Kahlo - Viva la Vida

  • Quando Qua. a sáb., às 20h30. Até 14/12
  • Onde Sesc Pinheiros, r. Pais Leme, 195, Pinheiros, São Paulo
  • Preço R$ 9 a R$ 30

Frida Kahlo tornou-se um ícone pop nas últimas décadas. Seu semblante sério e colorido estampa camisetas, bolsas e chaveiros ao redor do mundo. Parte deste fascínio com a figura da artista tem a ver com a contradição vibrante que envolve sua vida e sua obra.

A dor ininterrupta que sentia, as traições e deslealdades que sofreu ou o inconformismo diante de um mundo injusto conviviam com a efusão de vida e cores vibrantes de seus quadros, com a expectativa da revolução, ou com o comportamento livre que teve em vida. 

Esta força de opostos aparece na famosa frase escrita em seus diários pouco antes da morte: “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar”. Festa e tragédia conviviam nas expressões e nos trabalhos da artista.

O espetáculo “Frida Kahlo - Viva la Vida”, do Teatro do Ornitorrinco, compreende e sublinha esta característica dialética da artista. Christiane Tricerri busca transitar pela exuberância e melancolia em sua representação de Frida. Assinala o desejo ardente, os gestos expansivos, o gosto pela bebida e como essas eram formas compensatórias da dor.

Não se trata apenas da reversão da tristeza em festa, mas da forma própria e fascinante com que ela fazia conviver as duas coisas. Nesse sentido, a aproximação com o Dia dos Mortos na peça ajuda a ativar esse espírito que não é de superação, mas sim de convivência dialética. Neste dia, morte e vida se unem em uma festividade singular. Não é um momento de lamento, é coexistência de morte e vida.

Mas o espírito insubordinável de Frida contrasta com a interpretação excessivamente marcada e dirigida na montagem protagonizada por Tricerri. 

Assim como em “Nem Princesas, Nem Escravas”, que estabeleceu o retorno do Ornitorrinco em 2018, os gestos da atriz, as pausas, modos de dizer e até mesmo de interagir com o público são tão predeterminados que há pouco espaço para o acontecimento presente do teatro. O rigor excessivo da composição, paradoxalmente, corrói a vida da cena e a torna estática.

A dramaturgia de Humberto Robles não tem grandes qualidades literárias e, apesar disso, é formada de longos monólogos. É um texto que pede, portanto, um jogo mais vivo e livre com o público, algo que faria com que a situação paralisada de um longo relato ganhasse força concreta e vigor cênico. Mas falta justamente este tipo de liberdade e de vida teatral na homenagem à pulsão de vida que emana de Frida.

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