Uma mulher num vilarejo macedônio enfrenta as tradições locais e se vê pressionada por isso. Mas não é somente uma mulher. É uma mulher acima do peso, acima da idade de casar, acima da idade para começar a vida profissional.
Não apenas: as tradições que ela enfrenta são machistas e vêm da igreja. Parece coisa demais, e é.
O maior problema de “Deus É Mulher e Seu Nome é Petúnia” reside nesse acúmulo de camadas. A dificuldade em depurar um pouco os temas faria pensar que a diretora, Teona Strugar Mitevska, é iniciante. Mas não é o caso —esse é seu quinto longa.
Petúnia é uma mulher de 32 anos que vive com os pais. O pai aparentemente apoia e valoriza a filha, formada em história e desempregada pela falta de oportunidades que, vai contando o filme, o país enfrenta.
A mãe nem tanto; desde a primeira interação das duas se frisa o desagrado que demonstra pela filha. Mitevska opta por colocá-lo de forma literal, num diálogo entre Petúnia e a mãe.
Eis um indício de outro dos problemas do filme, talvez decorrente do primeiro: são tantas as questões que a trama tenta colocar que não há tempo e espaço para que conheçamos a personagem senão pela enunciação de suas tristezas.
Desse modo, fica pouco clara a motivação para que Petúnia pule no rio atrás da cruz de madeira que, a cada ano, o padre da paróquia ortodoxa local lança. As regras dizem que só homens podem fazê-lo e que aquele que conseguir terá boa sorte o ano todo.
Cria-se um impasse, pois ela não teria direito a pegar a cruz. Mas o fato é que ela supera os homens e teria, portanto, direito ao objeto sagrado. Teria direito a ter sorte. Ou não.
A atuação de Zorica Nusheva compensa em parte os defeitos de construção de Petúnia. Natural e carismática, carrega sozinha durante todo o longa o dever de nos aproximar de uma personagem sobre a qual temos poucos dados.
Talvez haja, entre os excessos, uma profusão desnecessária de personagens secundários. Destes, a que parece mais necessária, por fazer um contraponto a Petúnia —a mulher da capital, que enfrenta os chefes e o marido— é a jornalista Slavica. Infelizmente, seu desempenho não vai além dos clichês com que é apresentada.
Entram em cena ainda alusões a fábulas de Esopo, um breve aceno a uma história de amor e uma associação, essa ainda no começo do longa, entre Petúnia e a santa mártir morta em Roma, à qual supostamente deve o nome.
Supostamente porque a tradução troca Petrunija por Petúnia, quando o nome equivalente seria Petronila —a afilhada espiritual de são Pedro, que teria rejeitado um pretendente e morrido virgem.
Tudo sobra um pouco nesse filme. Desperdiça-se uma boa premissa que, tratada com economia, poderia nos dar a rara chance de ver uma trama feminista pelos olhos de uma sociedade da qual tão poucas notícias nos chegam.
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