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Globo de Ouro alça comédia individualista e dramas femininos

Premiação reflete nossos tempos de egolatria e deve ficar mais nítido daqui por diante, com o fim de 'Big Bang Theory' e da genial 'Silicon Valley'

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Após duas décadas de reinado, as comédias que trazem como protagonista um grupo, e não um indivíduo, parecem entrar em seu ocaso —ou, ao menos, é o que indica a lista de indicados ao Globo de Ouro deste ano, se é que o prêmio serve de algum parâmetro.

Pela primeira vez na década, nenhum dos cinco indicados na categoria se inscreve nesse subgênero, que costuma explorar famílias, amigos e colegas de trabalho como fonte primordial de humor. 

Ao contrário, as cinco indicadas deste ano extraem sua graça de personalidades peculiares e, de certa forma, solitárias em seu tempo ou lugar.

“Fleabag” e “A Maravilhosa Sra. Maisel” (Amazon), “O Método Kominsky” e “The Politician” (Netflix) e “Barry” (HBO) têm protagonistas inequívocos e acometidos por neuroses particulares. Embora todas contem com elenco de apoio brilhante, não há um grupo coeso em cena com participações similares. Ao contrário: as fantasias dos protagonistas, em todos os casos, pesam mais que o coadjuvante.

Isso fica claro quando se corta a cena para os indicados do Globo de Ouro 2010, quando a lista era formada por “Glee”, “Entourage”, “Modern Family”, “30 Rock” e “The Office” — todas sobre um grupo de amigos/colegas/parentes e suas relações, a ponto de tornar difícil discernir entre atores principais e coadjuvantes.

Os “ensemble casts” foram absolutos na primeira metade década; só em 2015, com a indicação de “Jane the Virgin”, é que protagonistas inequívocos começam a voltar à cena. 

Na edição deste ano, já havia ocorrido uma inversão, com só um dos indicados —”The Good Place”— se classificando no subgênero de protagonismo grupal (as demais eram “Kominsky”, “Maisel” e “Barry”, que voltam neste ano, e “Kidding”, com Jim Carrey).

O movimento que o Globo de Ouro antecipa e que reflete nossos tempos de egolatria e egoísmo, vitaminado pelas redes sociais, deve ficar mais nítido daqui por diante, com o fim de “Big Bang Theory”, maior sucesso recente do tipo, e da genial “Silicon Valley” (um erro, aliás, deixar esta série da HBO fora da lista).

Outro sinal dos tempos a se notar na lista deste ano: com  exceção do drama familiar “Succesion” (HBO), os dramas indicados —”Big Little Lies” (HBO), “The Morning Show” (Apple TV), “The Crown” (Netflix) e “Killing Eve” (BBC América/Globoplay)— são histórias essencialmente femininas. Há ainda, entre as minisséries, a ótima “Inacreditável”, que deve ser preterida pela obra-prima “Chernobyl”.

Em 2010, essa lista tinha o sinal inverso, com quatro séries que transbordavam testosterona (“Mad Men”, “Big Love”, “Dexter” e “House”) e um drama de turma, “True Blood”.

O Globo de Ouro é repetitivo, e os mesmos nomes tendem a se revezar nas diferentes categorias, ano após ano. Ao olhar quadro todo, no entanto, vê-se que a paisagem televisiva, nesta década que viu florescer o streaming, se tornou bem mais sensível às mudanças do público.

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