Há mais de um problema em “Star Wars: A Ascensão Skywalker”, nono episódio da série.
O primeiro deles é, justamente, ser o nono. Ele chega num momento em que os principais elementos da saga de George Lucas já estão bem usados: os conflitos familiares, o assassinato do pai, o poder de atração do lado sombrio da Força.
Para compensar, os últimos exemplares da série se entregam a uma espécie de hipertrofia de efeitos e movimentos que não servem senão a isto: ser movimentos.
E, no entanto, é inegável que a série, mesmo esgotada, preserva certos encantos. Sobretudo no início, experimentamos ainda a sensação de viajar ao impossível (na trilha aberta por Méliès há mais de um século), o que faz ainda hoje parte do encanto da saga criada por George Lucas.
Alguns recursos mantêm-se interessantes: os diálogos com os mortos, o aparecimento de figuras que invadem o espírito de outro personagem, mesmo essa percepção (que parece vir dos faroestes de Anthony Mann) de que o lado sombrio e o lado luminoso a rigor estão no interior de cada um continua ter sua eficácia.
Vamos, porém, aos fatos: a Primeira Ordem pretende, para variar, aniquilar de vez a Resistência que tem por chefe a general Leia, que nesta trilogia conta com o apoio de Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac), os três valentes guerreiros que se lançam numa operação meio desesperada contra forças infinitamente superiores.
Entre esses, o principal inimigo, de longe, continua a ser Kylo Ren (Adam Driver), ao menos entre os vivos.
Mas desta vez ele está envolto em tantos problemas existenciais que sua participação em não raros momentos é sobretudo protocolar.
E, quando isso não acontece, Kylo Ren está tão destroçado interiormente que a partir de certo momento o comando das forças da Ordem passa a um personagem secundário.
Se tem momentos fascinantes (por exemplo, a empreitada de Rey através das águas de um mar mais que revolto, endemoninhado), o conjunto de “A Ascensão Skywalker” acaba por produzir uma sensação de peso, de academismo de efeitos, que provém em grande parte da percepção, que não escapará a muitos espectadores, de que a saga agora se iguala em muitos momentos à vulgaridade de séries de super-heróis.
Toda essa agitação, por vezes tão vazia, leva, no entanto, a um final interessante, do qual seria injusto falar muito. Digamos, porém, que tudo o que acontece gira em torno da necessidade de Kylo Ren encontrar um sobrenome.
Parece pouco, mas nesta trama em que família, descendência e tradições contam tanto, essa busca e algumas das batalhas e dos afetos que movimenta são bem interessantes, embora insuficientes para limpar as rugas que “Star Wars”, não é de hoje, ostenta. E que estão mais visíveis a cada episódio.
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