Descrição de chapéu

Novo disco de Bethânia celebra a Mangueira com doses sonoras da Bahia

Cantora presta homenagem cantando o que quer e como quer

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A Menina dos Meus Olhos

Caetano Veloso já escreveu que “a Mangueira é onde o Rio é mais baiano”. Esta música não está no repertório de “A Menina dos Meus Olhos”, de Maria Bethânia, mas está no espírito do CD.

Natural de Santo Amaro da Purificação, terra de samba de roda, a cantora selecionou nove sambas cariocas e injetou neles doses sonoras de Bahia. Entregou os arranjos a Letieres Leite, o maestro da Orkestra Rumpilezz, de Salvador.

Atabaques e timbales se unem a caixas de guerra e cuícas. E ainda há sopros e um quarteto de cordas, num exercício de rica liberdade.

O álbum é um agradecimento de Bethânia à Estação Primeira de Mangueira, que a homenageou no Carnaval de 2016 com o enredo “A Menina dos Olhos de Oyá” —e conquistou o título.

O belo samba-enredo vencedor só aparece no final e como vinheta. Bethânia preferiu não cantar uma letra que a exalta. Incluiu duas músicas derrotadas na disputa interna daquele ano e convidou para interpretá-las o baluarte Tantinho (um samba dele mesmo com parceiros) e Caetano e Moreno Veloso (um samba de Nelson Sargento e outros).

Ninguém ousou impedi-la de violar a seguinte regra das escolas: sambas-enredo derrotados morrem no momento da derrota. Só podem ser cantados os vencedores, até para não suscitar comparações.

Bethânia, como não poderia deixar de ser, escolheu cantar o que queria e como queria. Três faixas são reverências à verde e rosa: “Mangueira” (Assis Valente e Zequinha Reis), “A Mangueira é Lá no Céu” (Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho) e “Sei Lá, Mangueira” —que ela optou por recitar. A beleza dos versos de Hermínio fica ressaltada, mas faz falta a melodia de Paulinho da Viola.

Ela também recita a maior parte de “Histórias para Ninar Gente Grande”, a composição de Manu da Cuíca, Luiz Carlos Máximo e outros que vem sendo considerada o melhor samba-enredo da década.

Sem se ater à agremiação como tema das letras, ela gravou dois sambas tristes (como não?) de Nelson Cavaquinho: “A Flor e o Espinho”, parceria com Guilherme de Brito, e “Luz Negra”. São as melhores passagens do álbum —Bethânia noturna, sublinhando dores, como faz à perfeição.

As duas canções de Nelson transcendem o conceito do projeto e vão sobreviver para além dele. As outras faixas se prendem mais à manifestação de gratidão que a artista fez questão de demonstrar à mais popular das escolas de samba. Não é pouco.

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