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Novo livro de Stephen King é encontro do mestre do terror com o mundo de 'X-Men'

Aos 72 anos, o escritor parece de volta a seus melhores dias

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O Instituto

  • Preço 544 págs. (R$ 69,90)
  • Autoria Stephen King
  • Editora Suma de Letras
  • Tradução Regiane Winarski

De forma grosseira, é possível dizer que “O Instituto” é como um encontro de Stephen King com os X-Men. O romance mais recente do chamado mestre do terror usa um cenário semelhante à escola para mutantes da HQ da Marvel. Mas com peculiaridades que só King poderia agregar.

Não é exatamente uma história de terror. Pelo menos no figurino tradicional, de uma narrativa destinada a surpreender o leitor com reviravoltas assustadoras. 

“O Instituto” é muito mais uma história de crueldade, que provoca uma sensação incômoda que poucas vezes King conseguiu em sua célebre bibliografia.

Algumas das características básicas do autor marcam presença. Primeiro, no fôlego da narrativa. Mais uma vez, o livro é extenso, e, no caso de King, isso nunca é sinônimo de embromação. Ele precisa de espaço para contar um pouco de cada um dos personagens principais. 

Em seus romances, as reações de seus protagonistas são apoiadas por um perfil psicológico bem detalhado.

Como em praticamente todas as histórias que criou, a ação se passa numa cidadezinha imaginária. King adora esses pequenos cenários, como se conduzisse seus personagens num ambiente fechado, quase como cobaias num laboratório.

E, mais uma vez, as crianças voltam a ter a posição central na trama. Com o recente sucesso de “It - A Coisa” nos cinemas, a opção do autor por jovens heróis fica mais destacada. Em toda a carreira do escritor, meninos e meninas são desafiados constantemente por forças do além e monstros variados. Às vezes, como em “O Instituto”, enfrentam apenas adultos mal-intencionados.

E nunca King conseguiu reunir tamanho grupo de adultos tão desprezíveis quanto os responsáveis pelo tal instituto, um lugar para acolher crianças com poderes paranormais.

O destino terrível dos internos na “escola” é apresentado por um bom personagem, o garoto Luke Ellis, de 12 anos. Ele tem duas habilidades. Uma é ler vorazmente, capaz de devorar livros numa intensidade rara em qualquer adulto. E, o mais surpreendente, tem poderes telecinéticos, podendo deslocar objetos de um lado outro com sua força mental.

Um grupo de soldados invade a casa da família Ellis, sequestra Luke e mata seus pais. O garoto vai parar no instituto, um prédio enorme dividido entre “a parte da frente” e “a parte de trás”. Quem chega ao local fica na parte da frente, onde passa por exames extenuantes para determinar a dimensão de seus poderes.

Os meninos detidos ali passam por atividades que vão de exames médicos potencialmente inócuos, como ressonâncias magnéticas, a rituais de extrema violência e maldade, que incluem injeções e tentativas de afogamento.

Luke e seus companheiros atravessam essa rotina dormindo em quartos que são idênticos aos que tinham em suas casas, e têm alguma sensação de recompensa ganhando guloseimas quando se saem bem nos testes.

Mas eles querem encontrar uma maneira de fugir dali, antes que sejam transferidos para a tal parte de trás. Quem acabou transferido para lá nunca mais foi visto.

Não vale detalhar mais a trama, porque as motivações que King elenca para um tratamento tão desumano imposto aos meninos formam uma de suas histórias mais criativas. E o livros tem algumas sacadas curiosas, como abrir a narrativa contando a vida de Tim Jamieson, um ex-policial que arruma emprego de guarda-noturno na cidadezinha. É engenhoso como King irá, mais adiante, entrelaçar a figura de Jamieson com os garotos aprisionados.

Há algo na ambientação de “O Instituto” que remete a grandes romances que King escreveu no início dos anos 1980, como “A Incendiária” e “Cujo”. Aos 72 anos, o escritor parece de volta a seus melhores dias.

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