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Cinema

'O Juízo' é tentativa honesta, ainda que imperfeita, de visão nacional no terror

Apesar de ter uma trama promissora, ritmo não contribui para escalada da tensão típica do gênero

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O Juízo

  • Quando Estreia nesta quinta (5)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Fernanda Montenegro, Criolo e Lima Duarte
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Andrucha Waddington

Experiente em diferentes formatos, Andrucha Waddington se lança, com “O Juízo”, no filme de suspense. Uma história de corte psicológico-sobrenatural foi a opção da atriz e escritora Fernanda Torres, colunista da Folha, para fazer desta parceria com o marido diretor seu primeiro voo solo como roteirista de cinema.

A fazenda do período escravocrata, outrora às margens do caminho do ouro e hoje isolada em meio a florestas e cachoeiras, dá o cenário perfeito —antiga, brumosa e sombria, é um bom lar para fantasmas.

Num enredo com reminiscências de “O Iluminado”, Guto (Felipe Camargo) se muda para a propriedade herdada do avô com a mulher, Tereza (Carol Castro), e o filho, Marinho (Joaquim Torres Waddington, filho do diretor e da roteirista, estreando no cinema).

Pouco sabemos da família, além do fato de que Guto foge da vida urbana para tentar se livrar do alcoolismo. A falta de rumo do trio —apenas Tereza se mantém realmente ocupada, tentando fazer da velha casa um lar— é propícia para que suas mentes sejam cooptadas pelas assombrações.

No caso, os fantasmas do escravo Couraça (Criolo) e de sua filha, Ana (Kênia Bárbara), assassinados ali graças a um antepassado de Guto.

É um plot que propicia possíveis desdobramentos interessantes. Trataria o filme de reparação histórica? Ou será um terror em que não se sabe se os mistérios vêm do além ou da psique? Tudo isso “O Juízo” promete. Na primeira metade, ou pouco mais, cumpre.

A estética contribui —planos aéreos, a fotografia desenhando um cenário que mistura idílio e medo—, assim como as interpretações contidas.

Entre estas, destaca-se Joaquim Torres Waddington, que expressa bem, com seu olhar de severas sobrancelhas, seu tédio adolescente, ao vagar por uma paisagem que lembra a estreia cinematográfica de sua mãe em “Inocência”, filme de Walter Lima Jr. de 1983.

Também há as atuações coadjuvantes, porém inspiradas, de Lima Duarte, como o ourives Costa Breves, e Fernanda Montenegro, como sua irmã, a médium Marta Amarantes. 

Algo, contudo, desanda na fórmula promissora. 

O ritmo não se encaminha para a escalada da angústia, como pede a convenção do gênero; segue na mesma toada, com cenas que isoladamente fazem a ação avançar. Se o espectador esperava sustos —pois sustos são parte desse tipo de filme—, eles não vêm.

A fotografia acompanha o ensombrecer das almas; de repente faz-se a noite sem fim que, no terror e no suspense, anuncia o desenlace cruento.

A alvorada vem, mas não de maneira redentora, a relaxar a tensão —pois esta não chegou a se instalar nessa tentativa honesta, ainda que imperfeita, de dar uma visão nacional de um gênero de volta à moda.

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