Palavrões surgem de forma natural em obra que fecha trilogia de Rogério Skylab

Com carreira de 23 discos, músico lança 'Crítica da Faculdade do Cu' e não reclama de ter sucesso limitado

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São Paulo

Rogério Skylab lança nesta sexta (20), nas plataformas digitais, “Crítica da Faculdade do Cu”. O álbum fecha o que ele chama de Trilogia do Cu, iniciada em 2018 com “O Rei do Cu”, seguido de “Nas Portas do Cu”, que soltou no início deste ano.

A insistência no uso do palavrão não surpreende quem acompanha o cantor e compositor carioca. O que causa surpresa é perceber que, aos 63 anos, seus 23 discos gravados nas últimas duas décadas ainda não levaram Skylab a um público maior.

“Tenho mais de 300 composições gravadas e lançadas, mas nem 20% do meu repertório traz letras com palavrão”, diz o músico à reportagem. “Mas é o que marca, o que chama atenção. Minha música não é isso!”

Os títulos das faixas podem dar uma impressão errada do trabalho. No novo álbum, canções como “Beijar É Mais Importante do que Fuder” ou “Buceta Bradesco” talvez levem quem não o conhece a apostar que o humor, grosseiro ou não, é uma característica de sua música.

Não é. O palavrão é encaixado naturalmente nas letras. A poesia de Skylab é fluida, com muitas referências ao fazer da arte. Musicalmente, a força é tremenda. É muito difícil definir seu som para quem nunca ouviu. Não estaria errado dizer que gostar de Frank Zappa, Walter Franco e Arrigo Barnabé pode ser requisito para novos adeptos.

Skylab não reclama de ter menos sucesso do que poderia. “Quanto a uma questão estratégica, mercadológica, acho que o artista não deve pensar nesse tipo de coisa. Tem que ser o que ele é. Se vai ser assimilado ou não é uma questão para ser resolvida depois.”

Gravar discos é com ele mesmo. A partir de “Skylab”, em 1999, nunca mais parou. Ali iniciou uma série de álbuns que conduziram seu trabalho solo na década passada. Foram dez lançamentos, concluídos com “Skylab X”, de 2011.  Em 2009, ele também gravou “Skygirls”, disco de música eletrônica, e “Rogério Skylab & Orquestra Zé Felipe”, com o baixista da banda Zumbi do Mato.

Entre 2012 e 2014, apresentou o programa de entrevistas Matador de Passarinho, no Canal Brasil. De 2012 a 2015, gravou a “Trilogia dos Carnavais”, sua revisão muito particular do samba. Com outro colaborador constante, o músico e compositor Livio Tragtenberg, fez nova trilogia, entre 2016 e 2018.

“Nunca ganhei dinheiro com música. Gravar disco é uma coisa muito cara. Entra a grana dos shows, claro, mas é pouco. Fui funcionário concursado do Banco do Brasil. Esse salário foi fundamental, usei esse dinheiro para as minhas coisas.”

Parece que as pessoas gostam de discutir mais o personagem Skylab, realmente um tipo divertido e inteligente, do que falar sobre sua música. “Eu vivi muito esse problema a partir de participação no Jô Soares, porque ele tinha já essa característica de folclorizar.”

O que Skylab faz é rock. Não tanto na forma, mas na inquietação sonora. Mas se define como um autor de canções.

“Eu sou da classe dos cancionistas. Como Noel Rosa dizia, samba não se aprende no colégio. Alguns músicos feras são incapazes de fazer uma canção. Tom Jobim teve imensa dificuldade para criar ‘Águas de Março’. Era um maestro genial, mas não era cancionista. Esses são poucos: Djavan, Chico Buarque, Caetano...”

“Fundo do Mar”, do novo álbum, é uma “MPBzona”, lembra Chico Buarque. 

Sua impostação ao cantar, com uma certa gaiatice, quebra um pouco a percepção, mas, na voz de uma Nana Caymmi seria MPB clássica, Skylab usa Jorge Ben Jor como exemplo. “Ele é uma força da natureza, mas acho que ele não saberia fazer outra coisa, porque é algo orgânico. Na MPB, predomina a música orgânica, intuitiva. Não faço parte dessa história, meu processo é completamente oposto. Eu não tenho dom nenhum para a música, o que faço é totalmente cerebral. Talvez eu me identifique com Tom Zé, que compartilha esse sentimento de não ter dom para a música.”

Crítica da Faculdade do Cu

  • Onde Disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta (20)
  • Autor Rogério Skylab
  • Gravadora Independente
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