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Podcast 'Caso Evandro' transforma reviravoltas de crime em espetáculo

Programa revisita morte de menino de sete anos em 1992, no Paraná, fato que ficou conhecido como 'As Bruxas de Guaratuba'

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Caso Evandro

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Do sucesso de “Twin Peaks” à audiência de José Luis Datena, são inúmeras as evidências do fascínio mórbido que crimes exercem sobre a mente humana, sejam eles fictícios ou reais. Porque reconstrói o assassinato de um menino, “Caso Evandro” já estaria no caminho do sucesso, mas a equação que explica os impressionantes mais de 4 milhões de downloads do podcast é um pouco mais complexa que apenas dar ao público aquilo que ele espera.

Criado e apresentado pelo recifense Ivan Mizanzuk, professor e jornalista que desde a infância mora no Paraná, “Caso Evandro” tem seis partes em formato de "storytelling" (narração de uma história), das quais quatro já estão no ar —as duas finais estão em fase de produção—, e é a quarta temporada do “Projeto Humanos”.

Depois de contar histórias de personagens como uma sobrevivente do Holocausto e uma mulher que teve fotos íntimas vazadas, Mizanzuk mirou uma lembrança de infância como tema e se dedicou por dois anos às pesquisas que deram base aos 24 episódios da temporada que relembra Evandro Ramos Caetano, de sete anos, morto em 1992.

Ilustração do podcast 'Caso Evandro'
Ilustração do podcast 'Caso Evandro' - Reprodução

O caso ficou conhecido no Paraná como “As Bruxas de Guaratuba”, cidade litorânea que, hoje, tem 36 mil habitantes. Na época do crime, Mizanzuk tinha dez anos de idade, mas foi na juventude que se interessou pela história do assassinato –de férias na praia com os amigos, passou em frente a uma residência e ouviu de alguém que aquela era “a casa das bruxas”.

Suas moradoras mais ilustres foram Celina e Beatriz Abagge, que ganharam o apelido depois de acusadas de matar Evandro em um ritual satânico que deixou o corpo do menino sem mãos, sem cabelos e sem vísceras. Celina era a primeira-dama do município, e Beatriz, sua filha.

O fato de envolver magia negra e parentes de políticos é apenas uma migalha entre os componentes surpreendentes do crime. E é nas reviravoltas surreais a cada final de episódio, costuradas de maneira brilhante pelo roteiro de Mizanzuk, que mora o principal mérito do podcast.

A cada capítulo, o ouvinte alterna entre achar que as rés são culpadas e inocentes, entre eleger e isentar outros suspeitos, e chega ao extremo de desconfiar que tudo que está escutando não passou de uma grande armação e, assim, Evandro nunca chegou a morrer.

Junte-se à singularidade do caso e ao talento do narrador-roteirista para contar histórias a organização irretocável de uma quantidade absurda de material —autos com 60 volumes e 20 mil páginas, para ser exato—, e tem-se a receita do triunfo.

Mesmo com um ou outro defeito inofensivo, como algumas introduções prolixas, “Caso Evandro” consegue ser melhor do que sua grande musa inspiradora, o americano “Serial”.

Embora ambos tratem de crimes (e a humanidade morbidamente ama crimes, lembre-se, independentemente de quão bizarros eles são), o distanciamento impresso por Mizanzuk não só na narração, mas também no contato com os personagens, é elementar para manter a tensão constante, algo que não acontece no programa de Sarah Koenig.

E só quem vive de narrar o horror sabe o valor que tem um espectador tenso —David Lynch e Datena que o digam.

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