Rancho desativado vira 'campo de luz' na Califórnia

Artista Bruce Munro usa luzes para mudar a paisagem de vale na Califórnia

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Paso Robles (EUA)

Durante o dia, milhares de pequenas esferas brancas descansam camufladas num vale, na cidade rural de Paso Robles, centro da Califórnia. Ao pôr do sol, elas acordam e começam a ganhar cores, como se tirassem da terra a energia para brilhar. E, quando a noite chega, se transformam num tapetão de luzes sem fim.

A instalação “Field of Light”, do artista inglês Bruce Munro, ocupa 15 acres de um terreno particular chamado Sensorio, na beira de uma estrada. O espaço está coberto por mais de 58 mil esferas de fibra ótica, alimentadas por energia solar.

Os visitantes são convidados a caminhar pelo “campo de luz” (tradução literal do nome da obra), num caminho demarcado, no escuro. É possível ver as esferas bem de perto, instaladas em emaranhados de fios brilhantes.

“A obra deve ser gentil com a paisagem, descansar nela e não competir com as estrelas”, explica Munro à reportagem. “Gosto de trabalhar com luzes porque a luz é efêmera, é algo puro. Não tem uma forma física para você segurá-la nas mãos, guardá-la no bolso. Amo essas qualidades.”

“Field of Light” é o trabalho mais conhecido de Munro, apresentado em dezenas de cidades ao redor do mundo desde 2004. A inspiração veio de uma viagem nos anos 1990 ao deserto australiano, quando Munro vivia no país e trabalhava como designer de luminárias de vitrines.

“Se fosse um pintor, certamente pintaria o deserto. Mas trabalhava com luzes. Nos meus cadernos de rascunhos, tentei descrever e manter a sensação que senti”, diz Munro, que apesar de já ser formado em artes na época ainda não exercia o ofício.

Dez anos depois, de volta à Inglaterra, ele resolveu fazer uma experiência e montou um pequeno “Field of Light” na sua fazenda em Wiltshire, sul do país. A obra logo virou uma sensação na cidade, onde Munro vive até hoje e mantém seu estúdio com 15 assistentes.

Além de Estados Unidos e Europa, o artista levou “Field of Light” para Uluru, no centro da Austrália, em 2016, onde fica em cartaz até dezembro de 2020. Foi lá que o casal de americanos Ken e Bobbi Hunter viu e se apaixonou pelo trabalho, e decidiu convidar Munro a Paso Robles, cidade de 30 mil habitantes popular pelas mais de 200 vinícolas.

O casal é dono da propriedade Sensorio, um rancho desativado de criação de perus. Eles querem agora transformá-lo num “jardim de entretenimento inspirador, um playground para a mente”, como Ken Hunt descreveu ao Los Angeles Times. Em 2021, vai ganhar outras exibições, resort e centro de conferências.

“Field of Light” fica no Sensorio até 2021, mas há possibilidade de extensão. O estúdio do artista em Wiltshire passou sete meses preparando as esferas de Paso Robles, enquanto um time de meia dúzia de profissionais trabalhou para mapear o terreno em algumas semanas. Ao final, cerca de 30 voluntários ajudaram a instalá-las.

“É curioso, a montagem é muito parecida com o plantio, deitando as sementes no solo”, disse Munro. “Gosto de trabalhos quando muitas pessoas se reúnem para fazer algo acontecer. É uma experiência muito mais agradável.”
 

Paso Robles recebe a maior instalação da série “Field of Light”, embora Munro diga que não esteja preocupado em quebrar recordes.

Fotografias com flash são proibidas, mas há quem fique obcecado atrás da câmera tentando tirar a foto perfeita, deixando de perceber que as “flores” de fibra ótica mudam de cor, ondulando a paisagem.

Food trucks e shows de música fazem parte do ambiente na entrada do Sensorio, ainda que Munro diga que prefira o silêncio para apreciar seu colorido e fértil campo de luz.

A jornalista viajou a convite da cidade de Paso Robles

Erramos: o texto foi alterado

'Field of Light' fica no Sensorio até 2021, não até 5 de janeiro. O texto foi corrigido. 

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