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Cinema

Retrato de sexualidade gay sem pudores é trunfo de 'A Rosa Azul de Novalis'

Alguns monólogos, porém, soam forçados e pedantes quando se pretendem sérios

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A Rosa Azul de Novalis

  • Quando Estreia nesta quinta (19)
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Marcelo Diorio, Majeca Angelucci, Marcos Hermanson Pomar
  • Direção Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro

Daqui a alguns anos, quem se perguntar sobre os temas com os quais se preocupavam parte dos homossexuais masculinos em 2019 poderá ter em “A Rosa Azul de Novalis” uma possível resposta. 

Marcelo —interpretado por Marcelo Diorio— é um HIV positivo na faixa dos 40 anos que vive em uma casa decorada com pôsteres da escritora Hilda Hilst e da soprano Maria Callas, cercado de plantas e livros de Kafka.

Em pouco mais de uma hora de filme, ele faz longos monólogos, estimulados por perguntas quase inaudíveis de um personagem que nunca aparece na tela. Ficamos sabendo de sua complexa relação com o pai e com o irmão falecido, da adoração que sentia pela avó e de sua iniciação sexual.

Solitário e meio entediado, Marcelo passa parte de seu tempo procurando sexo em aplicativos de paquera. “Este é um delícia que vem me mijar às vezes”, diz com naturalidade para a câmera, enquanto passa rapidamente no celular as fotos dos homens com os quais se relaciona.

Seu ânus é outra preocupação central: a cena inicial é um close em seu orifício anal enquanto ele recita um poema. O órgão voltará em outros momentos do longa dirigido por Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro, tanto em cenas de sexo quanto sendo lavado com leite de amêndoas.

A plenitude com a qual o roteiro mostra a sexualidade na vida de um personagem que parece não ter vergonha de vivê-la é um trunfo, com o qual podem se identificar um sem-número de homossexuais de grandes cidades brasileiras. Não há barreiras para o prazer, e esta leitura é bem-vinda em tempos conservadores como os nossos.

Mas "foder é um modo de aplacar as angústias", completa Marcelo, trazendo à tona outro tema caro aos gays ao evidenciar o lado amargo do excesso da oferta de corpos em aplicativos.

É justamente ao mostrar a angústia sem fim de seu anti-herói que o filme perde o tom. Os monólogos autorreferentes recheados de citações eruditas —a exemplo do Novalis que dá título ao longa, poeta romântico alemão do século 18—, soam forçados e pedantes quando se pretendem sérios.

Místico, o personagem tenta justificar sua personalidade pela astrologia. Seu comportamento algo depressivo se daria por ele ser "peixes com ascendente em aquário”, e sua necessidade de "conforto estético” por ter "touro em Vênus". O que isso significa?

Essas colocações alienam espectadores não familiarizados com o zodíaco, e parecem um pouco deslocadas, dado que a psique e o ânus de Marcelo são mostrados sobretudo com base em referências artísticas, de modo a lhes conferir certa aura.

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