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Teixeirinha ganha biografia que o mostra como figura ilustre do gauchismo

Fenômeno nos anos 1960, cantor foi intérprete potente e ajudou a fomentar o cinema em seu estado

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Belo Horizonte

Em agosto ou setembro de 1960, o locutor Oswaldo Audi, da rádio Nove de Julho, ligou de Sorocaba para o escritório da gravadora Chantecler, em São Paulo. A secretária que entrou na sala de reuniões disse apenas: “Tem a ver com Teixeirinha”.

Algumas rádios do país já rodavam “Coração de Luto”, cantada e composta pelo gaúcho Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha. Mas, na cidade do interior paulista, ele acabava de virar fenômeno. Poucos dias depois, pedidos de remessa do disco começaram a chegar de vários cantos do país.

A partir dali, Teixeirinha, o músico que andava com violão e pilchado —lenço, bombacha e botas— e já tinha gravado três discos sem muita repercussão, virou uma das vozes mais tocadas no rádio.

Pouco conhecido hoje fora do Rio Grande do Sul, entre 1960 e 1985, ele levou uma multidão ao aeroporto de Rio Branco, formou filas por seus discos em Belém, lotou shows no Nordeste, fez sucesso em Portugal e na Espanha, turnê nos Estados Unidos, tocou na América do Sul, estrelou e produziu os próprios filmes.

A história, misto de sucesso e da tragédia que impulsionou sua carreira, é contada no livro “Teixeirinha - Coração do Brasil”, de Daniel Feix.

Quando Teixeirinha estourou, a bossa nova era novidade. A música tocada por ele, com estilos como xote e fandango, era mais próxima da música caipira que do violão da zona sul carioca.

“Ele foi muito mal visto por certos setores, tem muito a ver com o contexto de produção musical no Brasil da época. Especialmente depois da bossa nova, [a crítica] tinha uma ideia do que era mau gosto e bom gosto”, diz Feix.

Os discos de Teixeirinha foram quebrados pelo apresentador Flávio Cavalcanti em seu programa de TV e ele foi julgado em programas de auditório sob acusação de usar a morte da mãe para fama.

Dona Ledurina morreu quando o filho tinha nove anos. Os três irmãos dele haviam sido entregues para a adoção depois que o pai morreu, três anos antes. Um dia, enquanto Teixeirinha estava na escola, a mãe queimava folhas secas e gravetos quando teve um ataque epiléptico e caiu sobre o fogo. Por três dias, ela agonizou. As cenas viraram letra de “Coração de luto”. 

Registros oficiais dizem que ele vendeu 18 milhões de discos na carreira, mas acredita-se que pode ter chego aos 25 milhões —8 milhões só com “Coração de Luto”.

“Ele fez um tipo de regionalismo que não é exclusivamente gaúcho. Compunha música de vários gêneros, foi influenciado pelos cantores dos anos 1940, Francisco Alves, Orlando Silva e Nelson Gonçalves, e pela música caipira”, diz Feix.

Uma voz em meio às críticas foi a de Caetano Veloso, que cogitou gravar “Coração de Luto”. Desistiu porque não se sentiu à vontade para entrar na seara do gauchismo.

A biografia também conta como ele criou uma indústria de cinema no Rio Grande do Sul. Nos 15 anos após abrir sua própria produtora, cerca de 30 filmes foram feitos no estado, quase metade com o cantor. Nas telas, tinha ao seu lado a acordeonista Mary Terezinha. Mesmo casado com Zoraida, teve um caso público com Mary, mãe de dois de seus nove filhos.

O término dos dois, em 1983, causou celeuma. Segundo Feix, um dos motivos foi a posição política do cantor, que se aproximou do PDS, partido que encampou pessoas ligadas ao regime militar, enquanto Mary era trabalhista filiada ao PDT.

Em entrevistas, Teixeirinha se emocionava ao falar sobre o fim da relação e pedia que não a condenassem. A história virou mais uma do folclore sobre Teixeirinha, assim como a plástica feita com Ivo Pitanguy e sua piscina em formato de cuia de chimarrão.

“Ele era um intérprete muito potente, porque a vida dele era muito trágica. Toda essa dor, ele conseguiu colocar nas interpretações”, diz Feix. “A história dele fala muito do país em ele viveu”.

Teixeirinha - Coração do Brasil

  • Preço R$ 60 (252 págs.)
  • Autoria Daniel Feix
  • Editora Diadorim
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