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Cinema

Trajetória de 'Star Wars' mistura autoajuda e máquina de fazer dinheiro

Saga completa uma trajetória que mudou o cinema do entretenimento e que provavelmente nunca será repetida

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Acabou. O nono filme da saga “Star Wars” é movimentado, talvez o que tem mais cenas de ação entre todos os longas.

“A Ascensão Skywalker” amarra as pontas soltas da trama e, apesar de algumas bobagens típicas de capítulo final de novela de TV, como promover a união de casais, sai com saldo positivo entre os fanáticos.

Os valores essenciais da saga, como coragem, sacrifício, esperança e honra, estão mantidos desde sempre. A maneira de contar histórias segue igual. O que muda, e é parte vital e determinante do cinema sci-fi, é a tecnologia de som e imagem.

Darth Vader e Obi-Wan Kenobi duelando com sabre de luz no primeiro filme, há 42 anos, parecem crianças pequenas brincando de espadinha diante dos embates entre o vilão Kylo Ren e a heroína Rey neste nono episódio. Um deles, numa espécie de mar revolto, é de tirar o fôlego.

Os elementos dramáticos básicos da série são reutilizados na conclusão. Principalmente a queda de braço entre o bem e o mal, com Kylo Ren querendo levar Rey para o lado sombrio da Força. Essa disputa insistente, que anteriormente pautou Darth Vader e Luke, tem um desfecho emocionante e bem resolvido.

Para ser justo, é preciso dizer: esta terceira trilogia, pilotada pelo diretor e produtor J. J. Abrams, é às vezes cópia descarada dos primeiros filmes no cinema. Em “O Despertar da Força” (2015), Rey faz caminho igual ao de Luke em “Star Wars - Uma Nova Esperança” (1977): sai de seu planeta insignificante para se unir a rebeldes contra as forças do mal.

Em “Os Útimos Jedi” (2017), ela passa boa parte da trama longe dos companheiros para ser treinada por Luke em um planeta distante, repetindo o que o próprio Luke faz em “O Império Contra-Ataca” (1980), quando se afasta dos amigos para ter aulas com Yoda.

Mais do que encerrar a saga, o filme ressalta dois aspectos que nortearam as histórias desde o primeiro episódio no cinema. “Star Wars” é um exercício de autoajuda, com a filosofia rasa desse tipo de iniciativa, e também dá aula de como transformar aventura em dinheiro, muito dinheiro.

“A Ascensão Skywalker” chega a ser excessivo na missão de convencer as pessoas de que todo mundo tem potencial, pode ser alguém melhor. No caso do universo criado por George Lucas, esse potencial atende pelo nome de “Força”.

Os heróis, em todas as fases da história, são levados a acreditar que têm algo especial, qualidades que ainda vão ser reveladas e que devem fazer a diferença quando chegar a hora decisiva. Na trilogia das primeiras histórias, que foi aos cinemas entre 1999 e 2005, o garoto Anakin desenvolve tanto poder que se torna Darth Vader, talvez o vilão mais relevante do cinema moderno.

Na segunda trilogia na narrativa cronológica da saga, mas levada às telas primeiro, entre 1977 e 1983, é Luke Skywalker que descobre ser um poderoso Jedi e precisa enfrentar Vader. Agora, nos três últimos filmes a partir de 2015, é a garota Rey a destinada a encontrar o seu destino de heroína.

Esses três personagens passam suas aventuras ouvindo mestres que os incentivam a evoluir. Não há muita diferença entre os ensinamentos de Obi-Wan Kenobi a Anakin, de Yoda a Luke ou de Luke a Rey. Autoajuda típica, que também está claramente inserida entre os outros personagens.

Os mocinhos da Resistência trocam frases motivacionais. Neste “A Ascensão Skywalker” chega a irritar a insistência em discursos para extrair o máximo empenho dos rebeldes que arriscam suas vidas.

Essa busca por crescimento interior é uma das chaves de “Star Wars” para seduzir o público. E, uma vez com as plateias motivadas, faturar em cima dessa paixão fica mais fácil.

Após “O Império Contra-Ataca” (1980), quinto capítulo da saga, segundo a ir para as telas e sempre eleito o melhor de todos os episódios, houve uma decepção com “O Retorno de Jedi” (1983). Ali George Lucas teria deixado a história um pouco de lado, talvez mais preocupado em vender ursinhos de pelúcia, por causa da inclusão dos ewoks, pequenos ursos guerreiros do bem.

Desde então, cada filme teve novos personagens, que serviram de plataforma para vender mais bonecos e navezinhas. Neste último filme, ainda deu tempo de escalar itens adicionais nas prateleiras das lojas, como um robôzinho vintage, para entrar no time de R2-D2 e BB-8, e um novo veículo, uma espécie de veleiro que Rey usa para percorrer águas muito tortuosas.

Entre heroísmo, autoajuda, contos de fada e lojas de brinquedos, “Star Wars” completa uma trajetória que mudou o cinema do entretenimento. E que provavelmente nunca será repetida.

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