Descrição de chapéu RFI

Fotógrafa que registrou e defendeu ianomâmis ganha retrospectiva em Paris

A exposição 'Claudia Andujar, A Luta Yanomami', em cartaz na Fundação Cartier, é a maior já dedicada à artista fora do Brasil

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Elcio Ramalho
Paris | RFI

Com cerca de 300 obras, a exposição "Claudia Andujar, A Luta Yanomami" em cartaz a partir desta quarta-feira (30) na Fundação Cartier, em Paris, oferece a maior retrospectiva já dedicada à fotógrafa fora do Brasil. Além do conjunto de fotografias e vídeos, a instituição programou atividades com a presença da artista e de lideranças indígenas para expor a situação de vulnerabilidade em que se encontram as comunidades originárias do país.

Trabalho de Claudia Andujar - Divulgação

Nos dois andares reservados pela fundação, a exposição reúne as imagens realizadas a partir dos anos 1970, quando Claudia Andujar iniciou seu contato com os ianomâmi e que vai evoluir para um engajamento militante.

A primeira parte que ocupa um andar inteiro do prédio mostra o caráter mais artístico de suas imagens; sua percepção com o estilo de vida, a relação com o território, os costumes e rituais como o xamanismo. A segunda parte revela a dimensão política e ativista, quando a fotografia é usada como vetor para ações em defesa dos direitos do povo ianomâmi.

“São dois núcleos. O primeiro, em que ela chega no território ianomâmi e começa a desenvolver um projeto artístico original e criativo e representa fotograficamente sensações, a visão de mundo dos ianomâmis. É um grande idílio, ela aprende e experimenta. No meio desse caminho, ela é expulsa do território por denunciar a violência da invasão do território amazônico e muda de atuação”, explica o curador da exposição, Thyago Nogueira.

 

Durante dois anos, ele e Andujar se debruçaram sobre o universo de cerca de 40 mil imagens realizadas pela fotógrafa e selecionaram uma sequência que sintetiza de forma narrativa e didática a longa carreira da artista e de seu envolvimento com os indígenas.  

“O projeto original era entender como ela evoluiu como artista. Ela não tinha chegado aos ianomâmis pronta. Ao mesmo tempo, queria mostrar a dimensão política do trabalho, que com o tempo vinha perdendo. Apenas a perspectiva artística vinha sendo destacada pelos museus, galerias e colecionadores. Na trajetória da Cláudia, isso era uma questão importante, a associação entre a imagem e a política. É fundamental”, afirmou Nogueira.

Um dos destaques da exposição é o conjunto de retratos com diversas gerações de índios marcados com números para auxiliar em uma campanha de vacinação contra doenças que apareceram no território devido à construção da rodovia Perimetral Norte, durante a ditadura militar.

A série, conhecida como “Marcados”, estabelece um paralelo com o período sombrio de sua história familiar. Seu pai, um judeu húngaro casado com uma suíça, foi marcado ao ser levado com seus familiares para o campo de concentração nazista de Dachau. Sobrevivente do Holocausto, Claudine Haas, seu nome de nascimento, foi levada pela mãe da Suíça para Nova York e de lá foi para o Brasil, onde chegou em 1955, já tendo adaptado e assumido o nome do marido espanhol.

Uma das salas da exposição na Fundação Cartier dá espaço para uma grande instalação onde são projetadas imagens da releitura da artista, hoje com 89 anos, sobre seu próprio arquivo.

“No fundo ela percebe que tem um ‘corpo político’ de imagens como uma arma poderosa para denunciar e impedir as atrocidades que estão acontecendo. É um ‘corpo fotográfico’ usado em forma de defesa”, destaca o curador.

A exposição "Claudia Andujar, A Luta Yanomami" fica em cartaz em Paris até o dia 10 de maio e depois segue para Suíça, Itália e Espanha.

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