Iran do Espírito Santo abre no Rio mostra com 56 tons de cinza

'Reflexivos' faz recorte da produção do artista nas últimas duas décadas

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Rio de Janeiro

Em sua primeira individual no Rio de Janeiro, o artista Iran do Espírito Santo chega com a exposição “Reflexivos”, um recorte de sua produção nas últimas duas décadas. Há esculturas conhecidas de sua carreira, desenhos inéditos e uma pintura feita especialmente em um dos andares do prédio do centro cultural Oi Futuro, no Flamengo.

“A ideia da curadoria foi focar a luz e seus reflexos”, diz o artista, que trabalhou por cerca de dois anos com os curadores Alberto Saraiva e Flavia Corpas para montar a mostra. No térreo, o visitante é recebido por um vídeo com um trabalho feito no Central Park, de Nova York.

É no primeiro andar que repousam suas peças de inox, que emulam um gigantesco parafuso com porca, uma caixa de fósforos ou um buraco de fechadura. São objetos do cotidiano, abstraídos em formas geométricas simplificadas. Há ainda a série de 14 globos de luz, cada um em seu formato, como os encontrados em casas de material para construção. Mas esses são sólidos, esculpidos em mármore branco.

Na segunda galeria, três pilastras sustentam o teto e, na parede de 19 metros, toda branca ao fundo, as
sombras dessas pilastras se dissolvem gradativamente.

Mas eis que uma surpresa aguarda o visitante: não são as sombras da pilastra, mas sim uma pintura que imita essas sombras, se acaso existissem. São estreitas faixas do teto ao chão, com 3,6 metros, partindo do preto até chegar ao branco original da parede, com nada menos que 56 gradações de cinza.

“Logo se vê que não é sombra, e sim uma coisa meio fantasmagórica. Está lá, mas não existe”, diz Espírito Santo. “É um paralelo entre a pintura e um elemento da arquitetura do local. Fiquei satisfeito com o resultado, sabe? Porque você só tem certeza se vai funcionar depois de pronto.”

A pintura, feita com tinta acrílica comum de parede, durou 18 dias. Cada tom de cinza tem sua fórmula registrada numa tabela, “x” mililitros de branco com “y” mililitros de preto misturados com seringa. “É matemático mesmo”, diz o artista.

No último andar do prédio, Espírito Santo apresenta seus novos desenhos de elipses, todos sem título. Cada elipse é feita a mão com uma caneta marcadora preta no papel de algodão importado de 640 gramas. Com o auxílio de um gabarito de acrílico, ele traça uma a uma, dezenas, centenas delas.

“Leva dias fazer cada um desses desenhos. E se eu erro um traço, tenho que jogar fora”, diz. É preciso considerar o ângulo da mão, pressão aplicada na caneta, o volume de tinta que sai etc. 

Isso sem falar nos vários estágios psicológicos pelos quais passa o artista, “como ansiedade, saco cheio, contemplação”. “E, sim, eu erro bastante. Diria que errei um desenho a cada dois que fazia.”

REFLEXIVOS

 
 
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