Descrição de chapéu RFI Moda

Jean Paul Gaultier se despede da alta-costura em desfile na temporada de Paris

Ele foi responsável por dar espaço nas passarelas a todos os tipos: magros, gordos, altos ou baixos

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Maria Paula Carvalho
RFI

Depois de 50 anos de carreira, o lendário estilista francês Jean Paul Gaultier fez seu último desfile de alta-costura na noite desta quarta-feira (22) na capital francesa. O teatro do Châtelet ficou repleto de amigos e admiradores do criador irreverente que surpreendeu os fãs com essa despedida.

Duzentas manequins formavam o casting de uma noite especial. Gaultier convidou celebridades das passarelas, do cinema e da música para mostrar suas criações para a temporada de primavera-verão de 2020. Entre elas, a atriz e modelo espanhola Rossy de Palma, musa do cineasta Pedro Almodóvar, e a cantora Nina Hagen.

"Foi muito bom ver o teatro cheio com um público que ria, chorava, que estava em comunhão com ele. É mais alegre do que um desfile de moda que dura 11 minutos, com pessoas que estão lá com seus telefones celulares, tirando fotos e aplaudindo muito pouco ", disse o historiador da moda, Oliver Saillard.  

A notícia da aposentadoria de Gaultier da alta-costura foi recebida com surpresa pelos fãs que aprenderam a amar suas coleções transgressoras. Afinal, foi ele o responsável pelas saias e maquiagem para os homens e por dar espaço nas passarelas a todos os tipos: magros, gordos, altos ou baixos. Jean Paul Gaultier vê beleza em tudo e não apenas nos clichês do mundo da moda.

Como esquecer, também, os sutiãs em forma de cone que fizeram sucesso no corpo escultural da cantora Madonna? O que poucos sabem, entretanto, é que o design icônico veio de seu ursinho de pelúcia, Nana, para quem Gaultier projetou seios cônicos ainda criança, quando seus pais se recusaram a lhe dar uma boneca. "Nana foi a primeira transgênero", brincou o estilista numa entrevista.

De personalidade extravagante, Gaultier sempre foi um prodígio da tesoura e das agulhas. Aos 18 anos, tornou-se assistente pessoal do também estilista francês, Pierre Cardin. Em cinco décadas de trabalho, o gênio Gaultier revolucionou as passarelas.

A lista infindável de suas criações tem roupas inspiradas no punk, no burlesco ou no mundo trans, mas sempre perfeitamente cortadas e bem acabadas. O estilista também foi um dos primeiros a mostrar modelos com mais idade ou mesmo tatuadas. O criador desafiava os estereótipos de gênero e as ideias convencionais de beleza, divulgando anúncios para modelos "atípicos".

"Ele é um homem extraordinário, inspirou a todos nós. Ele é maravilhoso, já é história, mas sempre será alguém que nos inspirará", disse Julie de Libran, ex-criadora de Sonia Rykiel, que lançou sua própria marca de vestidos e cujo desfile ocorreu poucas horas antes do de Gaultier.

Desde sua primeira coleção, Gaultier mistura gêneros, sexos e épocas. Quem não se lembra do famoso suéter de marinheiro criado por ele em homenagem a sua avó?

Jean Paul Gaultier vendeu sua marca para o grupo catalão Puig em 2011 e suspendeu as coleções de prêt-à-porter em 2015, quando se concentrou na alta-costura.

Mas quem teme que o designer irreverente saia de cena pode ser tranquilizar, já que ele promete "novos projetos" para o futuro. Em meio ao mistério sobre o futuro profissional de Jean Paul Gaultier, muitos acreditam que o showman, de 67 anos, poderá se lançar no showbiz.

O desfile desta quarta-feira foi seguido de uma grande festa para os convidados dançarem e celebrarem esses 50 anos de pura inventividade.

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