Muitos e muitos mistérios criminais adotam o esquema de pistas falsas para entreter até o final, quando o grande segredo é revelado. Poucos ultrapassam esse jogo de esconde-esconde e o prazer que oferecem acaba junto com o desvendamento da trama. O thriller italiano “Testemunha Invisível”, uma refilmagem do espanhol “Um Contratempo”, de 2016, pertence à tradição de tramas em que nada é o que parece.
“Sua versão é invenção”, diz uma especialista a Adriano Doria, um empresário suspeitíssimo da morte da amante. A partir desse alerta, o filme descreve uma sucessão de fatos que podem ou não ter ocorrido tal como são apresentados.
Por trás de toda história há sempre um narrador e um ângulo. “Testemunha Invisível” explora este inevitável efeito de perspectiva e o acentua com o poder que o cinema tem de nos fazer acreditar nas imagens.
O filme se estrutura sobre dois pilares. De um lado, está o diálogo entre o acusado e a profissional contratada para orientar o testemunho dele. De outro, entram flashbacks que representam e agregam verossimilhança ao relato do réu.
À medida que a trama se complica, percebe-se que há camadas ocultas sob esses níveis do relato. Quem testemunha? Quem narra? O que cada personagem esconde? Sem ter acesso às respostas, oscilamos entre a simpatia e a suspeita.
A escolha de Riccardo Scamarcio para o papel principal oferece mais de uma vantagem para manter o interesse.
A interpretação do ator italiano combina a fragilidade de alguém que sofre falsa acusação e o maquiavelismo de um poderoso que sabe manipular. Sua aparência sincera é uma máscara? E se o mascaramento não for exclusivo de seu protagonista tão ambíguo?
Ao lado dele, a personagem de Laura (Miriam Leone), a amante, segue o padrão, que o cinema impôs, da mulher fatal, mudando de aparência e de comportamento.
Desse modo, “Testemunha Invisível” ultrapassa os limites da trama criminal em que basta descobrir o mistério e se transforma numa ficção no espelho, mostrando que as máscaras não só escondem, mas também revelam o que há debaixo delas.
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