Pet Shop Boys dizem que é hora de fazer amor e política com disco inspirado nas ruas

'O Brasil tem um governo terrível, mas a melhor plateia do mundo', afirma Neil Tennant, vocalista

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Rodrigo Pinto
Londres

Foi na rua que o duo inglês Pet Shop Boys se fez. Em 1983, Neil Tennant (voz) e Chris Lowe (teclados) se conheceram numa loja de eletrônicos na região do Chelsea, em Londres, e dali saíram andando e fazendo planos.

Primeiro, adotaram "West End" como nome de futuro trabalho artístico, homenagem à área de Londres conhecida por teatros, inferninhos e sua cena gay, que eles, claro, frequentavam. Logo, já como “meninos da pet shop”, explodiram mundialmente com o hit “West End Girls”, alegoria dançante de brigas, fugas e diferenças de classe na noite do Soho. Trinta e sete anos depois, mais uma vez a rua é o combustível para a dupla.

“Sempre encontrei andando por aí os temas de nossa música”, diz Neil Tennant sobre o 14º álbum do Pet Shop Boys, "Hotspot", com dez canções inéditas. “Por exemplo, 'Hoping for a Miracle', terceira do disco, fiz observando um pedinte na ponte de Waterloo. É sobre essas pessoas que se transformam em paisagem na cidade.” Triste para um duo de pop eletrônico? Espere até ouvir a superdançante "Happy People". É inevitável o sentimento de ironia ao se comparar a alegria dilacerante exibida pelas pessoas nas redes sociais à tristeza escondida a sete chaves em suas vidas fora do celular.

“As redes sociais criaram uma situação em que as pessoas postam opiniões online e aquilo dá em nada. Há uma imensa expectativa, seguida por uma enorme frustração por não sermos ouvidos. É preciso sair, ir para as ruas fazer amor ou política de fato”, elabora Tennant. De certo, "Hotspot" não escapa ao que ele e Lowe têm de melhor, o irresistível casamento entre melancolia e euforia. “Minha voz tem muito disso”, concorda Tennant.

No entanto, a fricção entre alegria e tristeza não resultou num disco mais político e menos dançante.

“Fizemos isso ano passado, no EP 'Agenda', com canções satíricas”, lembra Tennant. Em "Hotspot" os Pet Shop Boys tentam levantar o astral, sem alienação, num mundo dominado pelo noticiário pessimista.

“Nossa agenda é a liberdade. O mundo está indo por um caminho ruim, cheio de nacionalismos, refratários à liberdade. E nacionalismo dá em guerra, porque tem sempre alguém querendo provar algo”, diz Tennant.

O cantor define "Hotspot" como o “álbum 'Berlim' de nossa carreira”, em alusão aos célebres discos gravados nos anos 1970 por artistas como David Bowie (“Heroes”) e Iggy Pop (“Lust for Life”) na capital alemã. "Hotspot" foi, efetivamente, registrado no gigantesco estúdio Hansa, conhecido por, nos tempos de Guerra Fria, estar a 150 metros do fatídico Muro de Berlim. Talvez por isso soe mais setentista do que a maior parte dos álbuns do PSB —principalmente os recentes "Electric" (2013) e "Super" (2016).

“O som está mais analógico, nostálgico. Gravamos com instrumentos vintage, alguns espalhados pelo chão”, diz Tennant, ao citar os termos comumente associados à sonoridade obtida no Hansa sem poder se lembrar das marcas dos equipamentos que usou. “Num dado momento, os elementos de uma canção —baixo, bateria, teclados e vozes— foram executados em quatro caixas de som separadas, dentro do estúdio, como se fosse uma banda ao vivo, e regravados, para dar esse gosto mais analógico.”

"Hotspot" aquece a turnê mundial que o Pet Shop Boys inicia em maio, em Berlim. “Só tocaremos hits”, diz Tennant. Do disco novo, serão "Monkey Business" e "Dreamland", que tem participação do Years & Years.

“Desde já, em nossas cabeças, são hits”, brinca Tennant, antes de afirmar querer ir novamente ao Brasil.

“O país tem um governo terrível, mas a melhor plateia do mundo. Os brasileiros batem palmas em um ritmo muito particular. Não há nada igual. Por isso, desde 1994, na 'Discovery Tour', sempre levamos nossas turnês ao país”, completa. 

Hotspot

  • Quando Lançamento nesta sexta (24)
  • Autor Pe Shop Boys
  • Gravadora x2 Records/Kobalt
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