Descrição de chapéu The New York Times

'Quero que a história agarre as pessoas pelo colarinho e as sacuda', diz diretor de 'Parasita'

O cineasta reflete sobre a ascensão do cinema sul-coreano e a importância da pronúncia de John Cho

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Reggie Ugwu
The New York Times

Mesmo antes de ouvir seu nome entre os dos indicados na transmissão televisiva da manhã desta segunda-feira (13), Bong Joon-ho, o diretor sul-coreano de “Parasita”, filme indicado para seis Oscars, e um mestre do suspense e da arte de prenunciar, divisou o que talvez fosse uma pista sobre o destino de seu filme.

Uma das pessoas encarregadas de anunciar as indicações era o ator John Cho, um americano de ascendência coreana. Seria coincidência? Ou uma indicação do inevitável e uma decisão de aceitá-lo graciosamente?

De qualquer forma, “ele pronunciou corretamente todos os nossos nomes”, disse Bong, em tom grato, por meio de um tradutor, em entrevista por telefone na tarde de segunda-feira (13) em Los Angeles. “Isso foi memorável”, complementou.

O diretor posa com prêmio na 25ª edição do Critics' Choice Awards
O diretor posa com prêmio na 25ª edição do Critics' Choice Awards - REUTERS/Danny Moloshok

“Parasita”, uma fábula contemporânea assustadora sobre uma família pobre e uma família rica que se emaranham de um jeito incomum, vem superando as expectativas desde que conquistou a Palma de Ouro no festival de Cannes no ano passado, tornando-se o primeiro filme sul-coreano a fazê-lo.

Mais tarde, o filme convenceu até os americanos, notórios pela aversão a legendas, a irem ao cinema, faturando mais de US$ 25 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos. Como primeiro filme sul-coreano indicado ao Oscar de melhor filme (“Parasita” também recebeu indicações aos prêmios de direção, roteiro original, edição, design de produção e melhor filme internacional), seu sucesso mundial está sendo alardeado como prova da estatura crescente de um país com longa tradição cinematográfica.

Para Bong, que já havia sido comparado elogiosamente a Steven Spielberg e Sidney Lumet por trabalhos anteriores (como “Memórias de um Assassino” e “O Hospedeiro") e conquistou audiências internacionais com trabalhos mais recentes como “Expresso do Amanhã” e “Okja”, as indicações são a cereja no bolo de um ano extraordinário.

“É a primeira vez que algo assim acontece, e por isso nem sei como processar e comparar minhas emoções. Mas é ótimo, claro”, ele disse.

A tradição cinematográfica da Coreia do Sul é rica e secular, mas você é o primeiro cineasta sul-coreano a ser indicado ao Oscar de melhor diretor. Deve ser complicado processar o fato. Qual é a sensação? É claro que não fazemos filmes para continentes ou para países. Cineastas fazem filmes por seus sonhos e obsessões pessoais. Mas apesar disso, não é frequente que um filme asiático ou coreano seja indicado ao Oscar. É muito raro. A imprensa sul-coreana está muito empolgada. É quase uma celebração nacional, e acredito que, de alguma forma, seja inevitável me ver cercado por festividades, agora.

Você se orgulha de sua realização? Fico muito feliz por não ter criado esse filme sozinho. Sou muito grato a todas as pessoas que criaram o filme comigo e todas as equipes que se envolveram no processo da campanha.

Por que o cinema sul-coreano vem passando por um momento de tanto sucesso agora, em sua opinião? Creio que isso prova que “Parasita” não é um filme que veio do nada. O cinema coreano tem uma longa história, e “Parasita” é a continuação de todos os filmes coreanos que o precederam. É uma extensão de nossa história. Não é a primeira vez que um filme sul-coreano passa por um processo como esse.

“A Criada”, de Park Chan-wook, ganhou um prêmio Bafta, e no ano passado “Em Chamas” [dirigido por Lee Chang-dong] foi parte do short list [para o Oscar de melhor filme estrangeiro]. E houve curtas de animação sul-coreanos indicados ao Oscar. Assim, todos esses desdobramentos ao longo dos anos amadureceram e conduziram a “Parasita” agora.

“Parasita” é seu sétimo longa como diretor. Ao começar a rodá-lo, você tinha a sensação de que ele poderia ter o impacto que veio a ter? De Cannes até hoje, em Los Angeles, tivemos uma série de acontecimentos imprevistos, com esse filme. E isso é algo que jamais esperávamos. Especialmente a bilheteria, que vem sendo ótima em todo o mundo. Criei o filme por causa dos aspectos controversos da história e para encarar esses desafios ousados, mas sempre me preocupei com a recepção que a história encontraria da parte do público e do mundo mais amplo. Estou muito feliz por a audiência ter aceitado os desafios que “Parasita” propôs.

Os críticos apontaram que o filme envolve os espectadores em múltiplos níveis simultaneamente —emocional, física e intelectualmente. Qual é a chave para conseguir tudo isso em um só filme? Nos meus filmes, quero que a audiência seja cativada física e instintivamente pelo filme. Quero que ela seja sugada para a história. Quero que a história agarre as pessoas pelo colarinho e as sacuda. E duas horas depois as pessoas possam ir para casa, tomar um banho e se acomodar na cama. E que, então, elas sejam atingidas por todas as mensagens intelectuais, cerebrais e controversas que o filme tem a oferecer, que elas se obcequem com o que filme está tentando dizer e não consigam parar de pensar a respeito. É a espécie de experiência que quero propiciar às minhas audiências.

No ano passado, “Roma” também recebeu indicações como melhor filme e melhor filme estrangeiro. Você acha que as audiências do cinema estão se tornando mais globalizadas? Mais simpáticas aos trabalhos que não são falados em inglês? Creio que as audiências dos Estados Unidos e da comunidade internacional estejam se abrindo mais aos filmes em idiomas estrangeiros. E creio que o sucesso de que “Parasita” desfrutou nos Estados Unidos realmente é um reflexo disso.

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