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Stephen Sondheim faz 90 anos e é lembrado com músicas no cinema e na TV

Maior compositor e letrista vivo de teatro musical faz aniversário em março, mas já recebe homenagens

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São Paulo

É só no dia 22 de março, mas a festa pelos 90 anos de Stephen Sondheim, maior compositor e letrista vivo de teatro musical, vencedor de oito prêmios Tony e oito Grammy, mais um Pulitzer e um Oscar, começou na véspera do Ano-Novo.

A New York Philharmonic apresentou “Celebrating Sondheim” com algumas de suas maiores canções interpretadas por Katrina Lenk e Bernadette Peters, estrelas da Broadway. Pouco antes, Sondheim, que há dez anos tem teatro com seu nome em Nova York, ganhou outro no West End de Londres.

Mas é em Hollywood que a maior parte dos espectadores está ouvindo e celebrando sua obra, neste momento, o que combina com ele. “Eu gostava de teatro, mas amava o cinema”, escreve no livro “Finishing the Hat”, lançado em 2010 pela Knopf, sobre o primeiro impacto da música, na sua infância.

"Suas músicas estão tão incorporadas ao vocabulário da cultura popular que apareceram em nada menos que três grandes filmes díspares", diz Frank Rich, que foi crítico de teatro do New York Times no auge de Sondheim e se tornou seu amigo.

Duas canções do musical “Company”, “Being Alive” e “You Could Drive a Person Crazy”, são interpretadas separadamente por Adam Driver e Scarlett Johansson em “História de um Casamento”, produção da Netflix.

A primeira, “Being Alive”, se mostra essencial para o conflito do casal formado no filme por um diretor 
teatral e uma atriz. E é um dos maiores “standards” de Sondheim, sobre o que há de solidão em se unir a alguém.

Nada do que ele criou para teatro musical, em princípio, pode ser considerado leve ou simples. O que o tornou idolatrado, desde as letras de “West Side Story” em 1957, foi a forma como maneja os maiores conflitos, do próprio indivíduo ou da sociedade.

O jovem compositor e letrista Lin-Manuel Miranda, do sucesso recente “Hamilton”, que antes trabalhou com Sondheim numa recriação de “West Side Story”, afirma que ele “ampliou o território sobre o que pode ser” o teatro musical contemporâneo, para “qualquer coisa que exista”, assassinato inclusive.

No filme “Coringa”, as três primeiras vítimas do protagonista cantam “Send in the Clowns”, do musical “A Little Night Music”, para provocá-lo num trem de metrô, até que o palhaço os mata.

É também a música do trailer do filme, cantada por Frank Sinatra. Mais do que “Being Alive”, é aquela que 
levou Sondheim do teatro para a cultura pop, com uma gravação de Judy Collins que resultou no Grammy de 1975, o último concedido a uma canção de musical. Já foi gravada até por Renato Russo.

No teatro, Judi Dench deixou a interpretação mais lembrada, de duas décadas atrás, no National, em Londres. Mas Sondheim prefere a primeira, de Glynis Johns, para quem ela foi criada especialmente, com frases muito breves, porque a atriz “não conseguia segurar uma nota”.

É uma letra torturada, que no original é da personagem de uma atriz de meia idade que se descobre sozinha e pede, como no teatro ou circo, para entrarem os comediantes e salvarem a cena. Esconderem seu fracasso.

Tem mais. Em “Entre Facas e Segredos”, Daniel Craig canta versos de “Losing My Mind”, do musical “Follies”. No streaming da Apple, na série “The Morning Show”, Jennifer Aniston canta “Not While I’m Around”, de “Sweeney Todd”. A lista segue por séries como “The Politician”, em que Ben Platt canta “Unworthy of Your Love”, entre outras do musical “Assassins”.

Platt está escalado para “Merrily We Roll Along”, musical de Sondheim que o cineasta Richard Linklater, que passou 12 anos filmando “Boyhood”, anunciou que vai filmar ao longo dos próximos 20 anos. A história acompanha décadas de afastamento entre três amigos, novamente em ambiente teatral, um compositor, o outro letrista, a terceira, crítica.

“Eu vi pela primeira vez e me apaixonei por ‘Merrily’ nos anos 1980”, diz Linklater em nota. “E não consigo 
pensar num lugar melhor para passar os próximos 20 anos do que no mundo de um musical de Sondheim.” Ben Platt deve chegar ao final das filmagens com 45 anos.

Antes disso, até o fim deste ano estreia o novo filme baseado em “West Side Story”, que está sendo dirigido por Steven Spielberg, com novo roteiro do dramaturgo Tony Kushner —que promete manter todas as canções compostas por Leonard Bernstein com as letras de Sondheim.

O musical, um dos muitos de Sondheim já adaptados para o cinema, ganhou a sua primeira versão em 1961, “Amor, Sublime Amor” no título brasileiro. “Sweeney Todd” saiu como filme em 2007. “Into the Woods”, em 2014.

Em tempo, Sondheim será também festejado no palco.

Uma nova montagem de “Company” estreia em 22 de março em Nova York, com uma mulher como a protagonista, Bobbie, e alterando bastante os casais. “West Side Story” estreia novas montagens em fevereiro, dirigido pelo belga Ivo van Hove na Broadway, e em abril no teatro São Pedro, em São Paulo, com direção artística de Charles Möeller e Cláudio Botelho.

Botelho é o artista brasileiro mais ligado ao compositor e letrista americano. Nas últimas duas décadas, verteu e adaptou as letras de musicais como “Company”, “Side by Side by Sondheim” e “Gypsy”, além de codirigir e atuar em parte deles.

Ele relata a angústia que é transportar as letras de Sondheim para o português, não só por ser uma língua que exige o dobro ou mais de palavras, mas pelas metáforas e referências que precisam ser sacrificadas no caminho.

Em “Company”, em 2000, Botelho foi Bobbie, que canta “Being Alive” ou “Viver É Mais”, em sua versão. E conta que, durante a temporada carioca, foi informado três horas antes de uma sessão que Sondheim, que não era sequer esperado no Brasil, estaria na plateia. Mal sabe como se apresentou.

O ator Larry Kert em montagem do musical ‘Company’, na Broadway, nos anos 1970
O ator Larry Kert em montagem do musical ‘Company’, na Broadway, nos anos 1970 - Reprodução

Foi no momento de reerguimento dos musicais no Brasil, quando nem existia mais teatro com fosso de orquestra no Rio de Janeiro. Sondheim foi ao camarim com o produtor Cameron Mackintosh, disse que gostou, deu permissão para um disco e depois até recebeu a dupla Möeller e Botelho em seu apartamento, a poucas quadras da Broadway.

Estimulou a dupla para o teatro musical, como fez também com Lin-Manuel Miranda e antes com Jonathan Larson, do sucesso “Rent”. E como foi estimulado, ele próprio, pelo lendário Oscar Hammerstein, de “Oklahoma!”, “South Pacific” e “The Sound of Music”, seu mentor e o grande nome da Broadway, até Sondheim se impor.

Canções nas telas

"História de um Casamento"
Adam Driver canta ‘Being Alive’ e Scarlett Johansson, "You Could Drive a Person Crazy", de "Company".

"Coringa"
Três jovens de Wall Street provocam o Coringa cantando "Send in the Clowns", de "A Little Night Music".

"Entre Facas e Segredos"
Daniel Craig canta "Losing My Mind", de "Follies".

"The Morning Show"
Na série da Apple TV+, Jennifer Aniston e Billy Crudup cantam "Not While I’m Around", de "Sweeney Todd".

"The Politician"
Ben Platt, rosto conhecido da Broadway, entoa "Unworthy of Your Love", de "Assassins".

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