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Álbum apenas com vozes, de Ligiana Costa, é surpreendente, forte e amoroso

Cantora defende que batalhas atuais só avançarão se mulheres forem ouvidas

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EVA

  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Preço R$ 30
  • Autor Ligiana Costa
  • Gravadora YB Music
  • Show de lançamento sex. (14), 21h, no Sesc 24 de Maio (R. 24 de Maio, 109 - República, São Paulo

Oito mulheres, oito histórias, oito vozes que representam uma multidão. “Eva” é o terceiro disco solo da cantora Ligiana Costa. Depois de álbuns que seguiam a tradição da canção brasileira (“De Amor e Mar”, de 2019, e “Floresta”, de 2013), Costa dedicou-se ao duo de música eletrônica NU (Naked Universe), com Edson Secco.

Artista múltipla, se iniciou na música pelo canto barroco e seguiu carreira acadêmica —sua tradução de “O Corego”, tratado do século 17 sobre encenação operística, foi premiada na Itália em 2018 com o Prêmio Flaiano.

EVA, que é ao mesmo tempo a personagem bíblica e uma sigla para “errante voz ativa” é um disco sobre mulheres do presente, do passado ou de tempos imaginados, da vida privada e da história coletiva.

É também um disco exclusivamente vocal. Apenas vozes, processadas ou naturais, fazem solos e acompanhamentos. Não se trata, no entanto, de algo ao estilo dos conjuntos vocais brasileiros, à la MPB4 ou Quarteto em Cy. Talvez uma referência mais próxima sejam álbuns experimentais de Tetê Espíndola, como “Voz Voix Voice”.

Cantora Ligiana Costa, que lança o disco 'EVA' - José de Holanda/Divulgação

O lançamento tem produção musical de Dan Maia e conta com a participação de diversos cantores. É um disco de sonoridade contemporânea, que foge dos clichês do universo pop e passa uma mensagem clara: as lutas do mundo atual só podem avançar se passarem pela voz das mulheres. Por mulheres que cantam.

Em “Nice”, canção que abre o disco, o refrão “my love woman is she”, repetido em coro masculino, tem algo dos madrigais renascentistas.

“Ná” é uma referência à cantora Ozzetti, de forma que a homenagem individual se estenda a todas as cantoras. As vozes masculinas em registro grave que dão sustentação harmônica a toda a canção lembram mais uma vez as práticas da música antiga —no caso, uma espécie de baixo contínuo.

A tocante “Luzia” foi escrita sob o impacto da notícia do incêndio que consumiu o Museu Nacional em 2018, antes que se soubesse que o fóssil mais antigo da América do Sul havia sido em grande parte poupado —gritos de dor se mesclam à frase “só uma mulher queimada, só mais uma”.

“Maya” parece propor uma versão feminina do poeta russo Vladímir Maiakóvski, cujos versos do poema “Nossa Marcha” são cantados em inglês. “Nossas músicas são nossas armas; as vozes soando, nosso ouro”.

Surpreendente, forte e amoroso, "Eva" é um ponto de equilíbrio entre os dois primeiros trabalhos solo de Costa e o experimentalismo do duo NU. No show de lançamento do disco, a artista sobe ao palco acompanhada por um quarteto vocal formado por São Yantó, Bruna Lucchesi, Marina Decourt e Dan Maia, um coro de câmara e a cantora Lívia Nestrovski.

O lirismo e a luta presentes no disco estão resumidos na última faixa. “Rosa”, parceria de Costa e Maia, nasceu como uma mensagem raivosa a uma parlamentar brasileira —“Não, não sente nada não/ tem empatia não”—, mas acabou se transformando num desejo de conquistar o coração “oco” dela e de muitos outros.

O título faz referência a Rosa Luxemburgo e termina com o desejo de que “caia a chuva do amor no mundo”.

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