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Cinema

Apesar de esforço, 'Aves de Rapina' é previsível e pouco original

Longa tenta sintonizar-se com diversidade do mundo contemporâneo, mas não faz isso de maneira orgânica

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Aves de Rapina

  • Quando Estreia nesta quinta (6)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Margot Robbie, Rosie Perez, Mary Elizabeth Winstead e Ewan McGregor
  • Produção EUA, 2020
  • Direção Cathy Yan

Não basta um filme ter direção de uma mulher e protagonista feminina para ser feminista. Não basta formar um elenco culturalmente diverso para ser expressão das minorias.

Inspirado no universo dos quadrinhos da DC, “Aves de Rapina” é um filme de sedutoras e cativantes super-heroínas. Arlequina (Margot Robbie) é uma psiquiatra que caiu no mundo do crime pelas mãos do companheiro, o Coringa. Agora que os dois terminaram, todos os seus desafetos a ameaçam. No longa, as mulheres ficam com os personagens mais fortes: são mais inteligentes que os homens. No enredo, os pontos altos são situações resolvidas na chave da sororidade.

Ainda assim, seria possível dizer que o filme desprende-se de uma lógica masculina e branca? “É um mundo de homens, mas ele não seria nada sem uma mulher ou uma garota.” Esses versos de James Brown, lindamente cantados por Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), são repetidos três vezes numa cena emblemática de “Aves de Rapina”. Eles sintetizam alguns dos mais importantes —e contraditórios— elementos do filme.

Uma lógica musical guia a montagem, ritmando desde sequências de luta até apresentações de personagens.

Ainda, a música: não há nada de fortuito na escolha dessa canção ou de sua intérprete. Se a personagem-título tem a pele cor de pó de arroz, como o rosto dos palhaços, há entre suas parceiras uma mulher negra (Canário Negro), uma latina (a detetive Montoya) e uma asiática (Cassandra Cain).

O elenco e a escolha musical fazem parte dos esforços do filme para sintonizar-se com a diversidade do mundo contemporâneo, sob o prisma das minorias. Infelizmente, parece muito mais um esforço cosmético do que algo orgânico.

Ainda assim, cabe a pergunta: devem os critérios políticos e culturais prevalecerem na avaliação de um filme? Se elegermos parâmetros mais propriamente cinematográficos, “Aves de Rapina” não se sai muito melhor.

É um filme muito bem feito, com ritmo eletrizante e enorme sintonia com seu tempo, sobretudo no humor. Apesar disso, é previsível, com personagens caricatos e uma estrutura muito pouco original.

Não faltam cenas de perseguição, piadas prontas, exposição do corpo feminino, lutas intermináveis. A ausência, sim, é de uma lógica mais genuinamente feminina e de fato diversa.

 
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