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Berlinale começa com resposta de Jeremy Irons a críticas de machismo e homofobia

A 70ª edição do Festival de Berlim teve início com um misto de alta voltagem e apatia

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Berlim

O Festival de Berlim, um dos três mais importantes do mundo —ao lado dos de Cannes e Veneza—, inaugurou nesta quinta (20) sua 70ª edição com um misto de alta voltagem e apatia. 

A eletricidade veio na entrevista do júri à imprensa, marcada por falas incisivas, sobre temas como política cultural e pautas comportamentais. Já a indiferença ficou por conta do filme de abertura, “My Salinger Year”, do canadense Philippe Falardeau, que deixou a plateia fria.

Presidido pelo ator britânico Jeremy Irons, o júri deste ano tem como integrante o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho. Ainda antes de a conversa com a imprensa começar, Irons fez questão de se pronunciar sobre postagens recentes em redes sociais ressuscitando falas antigas do ator com posturas machistas e homofóbicas.

O diretor Kleber Mendonça Filho, membro do júri internacional da Berlinale - Shan Yuqi/Xinhua

Antecipando-se a qualquer crítica, Irons disse ser totalmente a favor dos direitos das mulheres e contra o tratamento abusivo e desrespeitoso por parte dos homens. “Além disso, aprovo o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os lugares onde a prática foi autorizada”, disse, afirmando em seguida que é a favor do aborto “se a mulher assim decidir”. E encerrou com um categórico: “Espero ter colocado uma pedra sobre esses comentários antigos”.

A  fala de Irons fez com que os repórteres reposicionassem suas miras, e muitas das perguntas foram destinadas a Mendonça Filho, em geral sobre os ataques do atual governo com o cinema no Brasil. A mídia internacional parece de fato apreensiva com o tema.

“Estou preocupado [com a situação do cinema nacional]. Temos cerca de 600 projetos [audiovisuais] que atualmente estão congelados, por causa de burocracia”, disse o diretor. 

“O cinema brasileiro tem uma longa história, o que acontece agora [a boa fase, com prêmios e visibilidade em festivais] é resultado de vários anos de trabalho duro”, explicou, destacando políticas públicas para o setor que passaram a ser atacadas. “É exatamente isso que está sendo sabotado agora. Sim, estou preocupado.”

Mas, ao menos por enquanto, o cenário de apreensão do audiovisual ainda não se fez notar por completo: só nesta edição da Berlinale, o Brasil emplacou 19 filmes (entre longas, curtas e coproduções com outros países), sendo que um deles disputa o Urso de Ouro, “Todos os Mortos”, de Caetano Gotardo e Marco Dutra. 

O Brasil continua agradando em Berlim mesmo com a mudança de curadoria do evento neste ano. Após quase duas décadas sob o comando do alemão Dieter Kosslick, a Berlinale passa agora à direção do italiano Carlo Chatrian, que trouxe novos ventos à mostra —apostou ainda mais em diversidade (seis longas da competição são dirigidos por mulheres) e incluiu mais cineastas desconhecidos na disputa.

As escolhas curatoriais de Kosslick sempre foram discutíveis, mas suas opções para o filme de abertura eram especialmente infelizes. Chatrian, ao que parece, tem o dedo um pouco menos podre, mas também se equivocou ao optar por abrir o evento com o irrelevante “My Salinger Year”, mesmo que fora da competição.

O longa mostra uma aspirante a escritora que arranja emprego na agência literária do escritor J.D. Salinger, tão famoso por sua misantropia quanto pelo livro “O Apanhador no Campo de Centeio”, ainda hoje cultuado por adolescentes mundo afora. É do amadurecer dessa jovem que se trata, enquanto ela lida com a chefe durona e responde a um rio de cartas de fanáticos por Salinger.  

É um filme até simpático, mas sem o menor cacife estético para abrir um evento do porte de Berlim. Não está nem mesmo no nível, aliás, de filmes anteriores do próprio Falardeau, como o belo “O Que Traz Boas Novas” (2011).

Mas o longa ao menos ressuscita uma Sigourney Weaver inspirada, com bons momentos no papel da agente literária carrancuda mas de bom coração, além de contar com o charme da jovem Margaret Qualley. 

A atriz, que despontou como a hippie que pega carona com Brad Pitt em “Era uma Vez em... Hollywood”, mostra que tem estatura para virar uma estrela. É filha da atriz Andie McDowell, mas passaria fácil como uma irmã mais nova de Eva Green, com os mesmos olhos expressivos. Espera-se apenas que escape à maldição das outras duas e consiga uma carreira com um pouco mais de fôlego.

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