Cruzeiro de Roberto Carlos tem maremoto de vaias, mimos e piadinhas, bicho

'Vocêêê! Ela tem você!', bradavam senhorinhas quando cantor perguntou o que Cachoeiro de Itapemirim tinha de especial

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Búzios (RJ)

Desde 2005, Roberto Carlos sai em um cruzeiro de cinco dias lotado de fãs e canta seus grandes sucessos em um supernavio que singra pela costa brasileira. Neste fevereiro, aconteceu a 16ª edição desse projeto, chamado Emoções em Alto Mar, e veja bem, bicho: foi mesmo um mar de altas emoções ter feito parte do grupo de cerca de 70 jornalistas que subiu a bordo no dia 16.

Houve uma inesperada trombada do nosso barquinho ao chegar no navio, vaias épicas na entrevista coletiva e um show de primeira com o rei desfiando um repertório excelente. Tudo isso no barco MSC Fantasia, com capacidade para 4.300 pessoas e ancorado a cerca de 500 metros da costa de Búzios. A entrevista foi o grande momento do dia.

 

Em vez de os jornalistas sermos levados para uma sala tranquila onde pudéssemos conversar com o cantor, o cenário é o próprio teatro onde ele fará o show mais tarde. O público de passageiros lota o espaço de 1.500 lugares e é liberado para gritar, fazer juras de amor e torcer pelo rei durante a entrevista.

A coletiva, inclusive, é anunciada nos prospectos do cruzeiro como uma das grandes atrações.

Por volta das 18h, o apresentador soltou essa para o público: “Vocês são privilegiados por acompanharem a única entrevista do Roberto que acontece todo ano. Graças à generosidade dos jornalistas, que permitem que vocês estejam aqui, peço que respeitem as perguntas e divirtam-se.”

Balela, ninguém perguntou aos jornalistas se permitíamos a presença dos fãs, mas não era o caso de criar caso. Cada um erguia o braço para ter acesso ao microfone, se apresentava, dizia o veículo para o qual trabalhava e mandava brasa.

Roberto Carlos durante show da 9ª edição do projeto Emoções em Alto Mar, em 2013 - André Durão/UOL/Folhapress

As perguntas orbitaram se Roberto Carlos, 78, está namorando, com quem ainda gostaria de cantar, como ele se sente nesses tempos de supremacia feminina. Para as respostas foram “não”, “não poderia dizer” e “tranquilo, me dou muito bem com elas”, as fãs não se contêm e aplaudem cada uma, gritam que ele é lindo, que querem levá-lo para a cabine.

O público se incomodou quando chegou a vez da Folha. Assim que as fãs ouviram o nome de Paulo Guedes, um maremoto de vaias tomou conta do teatro. Não vaiavam o ministro, mas a pergunta: “Paulo Guedes disse recentemente que, com o dólar alto, os brasileiros deveriam ir a destinos nacionais e deu como exemplo ‘a cidade natal do Roberto Carlos’. Então, quais são as dicas turísticas para 
Cachoeiro do Itapemirim?”.

Muito simpático, o cantor ignorou o tumulto. “Agradeço ao Paulo Guedes por ter sugerido. É bom para a economia da cidade, né? Cachoeiro é linda. Tem montanhas e um rio que atravessa a cidade quase toda. É simples, mas atraente. O que ela tem de mais especial?”, divagou.

“Vocêêê! Ela tem você!”, acudiram as senhoras presentes. A reportagem aproveitou e engatou a questão: “O que você tem achado do governo Bolsonaro até agora, bicho?”. Desta vez, os gritos de revolta vieram acompanhados de “Só podia ser a Folha” e um outro “PT!”.

O rei mais uma vez não se incomodou, demonstrando às suas fãs que a majestade inclui bons modos. “Eu acho que o Bolsonaro é um cara bem intencionado. Tem tido muita dificuldade com todos os que estão à volta dele. Mas o Sérgio Moro e o Paulo Guedes, não, eu acho que esses estão sempre colaborando com ele. Então, ele está tendo dificuldade de realizar os planos dele, o que ele prometeu. Eu torço pelo Brasil e, torcendo pelo Brasil, eu torço para que ele faça tudo o que prometeu.”

Roberto também respondeu à revista Veja sobre Regina Duarte, que aceitou cargo de secretária de Cultura no governo: “acho que ela fará um bom papel em tudo isso aí. Sou fã dela desde sempre, acho a Regina Duarte maravilhosa”.

Pouco antes das 23h, Roberto iniciou o segundo show dos três que faria na viagem. Como o teatro não comporta todos os passageiros, eles são divididos em três grupos. A apresentação foi excelente. É um teatro mais intimista do que os estádios ou casas de shows em que canta normalmente. Isso traz uma proximidade muito grande do público com seu rei.

Até demais: dos camarotes superiores próximos ao palco, é possível ver a tela, como a de uma TV, que fica aos seus pés com as letras das canções. Piadinhas, cacos e interações com o público também estão todas lá, previamente redigidas.

 

Ele começou com uma sequência impressionante de grandes músicas, tocadas pela orquestra e cantadas com perfeição: “Emoções”, “Te Amo, Te Amo, Te Amo”, “Além do Horizonte”, “Você na Minha Vida”, “Detalhes”, “Desabafo”, “Outra Vez” e “Lady Laura”. E olha que isso foi só a primeira parte do show que durou duas horas e cinco minutos. Ao final, garçons servem uma taça de espumante com o logotipo do Roberto para cada espectador, um mimo.

Um mimo bem pago, é claro. As passagens para 2021, entre 15 e 19 de fevereiro, partem de R$ 4.068 (cabine interna) e chegam a R$ 11.940 (externa de luxo, com varanda) por pessoa. Já está 
esgotado e com lista de espera. O pacote inclui cinco refeições diárias e uma noite de show.

Antes, em outubro, o projeto Emoções atraca em Cancún, no México. Serão cinco dias no Paradisus Playa del Carmen, com quartos entre R$ 6.492 (as quatro noites) e R$ 14.436 por pessoa. O resort é “all inclusive” e também dá direito a um show do rei. Mas a passagem aérea fica por conta do hóspede. Informações e reservas no site projetoemocoes.com.br.

Com 14 andares, mais de dez elevadores, cinco restaurantes, 21 bares e lounges, cinco piscinas, lojas, spas, boate, cinema, cassino etc., o MSC Fantasia impressiona qualquer marinheiro de primeira viagem. O navio não balança, mas subir nele, se ele não estiver estacionado num píer, pode ser complicado.

No nosso caso, pegamos um barquinho que é uma espécie de ônibus, com 120 lugares sentados e 30 em pé. Estava bem lotado e, ao nos aproximarmos do navio, não parou como deveria e abalroou a plataforma onde os marinheiros nos aguardavam. A pancada assustou a galera e abriu um buraco na frente do barquinho —não o suficiente para fazê-lo afundar. Dois jornalistas passaram mal e saíram andando apoiados nos marujos.

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