Descrição de chapéu Artes Cênicas

Dramas contemporâneos e barbárie norteiam Mostra Internacional de Teatro

Programação, sediada em São Paulo, reúne espetáculos que analisam a brutalidade do coexistir

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Guilherme Henrique
São Paulo

A forma como nos relacionamos em sociedade, a memória enquanto lugar afetivo e hostil e a violência —física ou psicológica— formam um eixo temático da MITsp, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que será realizada entre os dias 5 e 15 de março. São 12 montagens internacionais, com espetáculos de países como Alemanha, Chile, França, Portugal e Suíça.

A programação será aberta no Auditório do Ibirapuera, com “Multidão”, da diretora e coreógrafa franco-austríaca Gisèle Vienne, lançada no ano passado. Durante 90 minutos, 15 atores brincam com sua permanência no espaço-tempo de uma rave.

“Há uma teatralidade exuberante dos movimentos em câmera lenta”, afirma Antônio Araújo, diretor artístico da mostra, à reportagem.

 

Primeiro português a participar da MIT, o aclamado Tiago Rodrigues, escolhido como artista em foco, vai apresentar dois espetáculos: “By Heart” (de cor) e “Sopro”. O primeiro retrata a experiência do diretor com sua avó Cândida, que tinha o costume de decorar trechos de livros. Misturando passagens reais e trechos de autores como Shakespeare e Pasternak, Tiago conquistou boas críticas ao redor do mundo —ele esteve no prestigiado Festival de Avignon, na França, em 2017.

“Ele parte de questões ligadas à memória para tornar tudo extremamente poético e lúdico”, explica Araújo.  “Sopro” narra a história de Cristina Vidal, que ao longo dos últimos 30 anos trabalhou como “ponto” —pessoa que relembra o texto de atores quando estes o esquecem— no Teatro Nacional D. Maria 2ª, em Lisboa.

Para além da memória afetiva, a Mostra também discute o ato de coexistir —não sem alguma violência. A perspectiva do mundo contemporâneo, analisa Araújo, aponta para um momento de “barbárie”, com “seguidas tentativas de eliminação do outro”.

 

Em “Burguerz”, a performer britânica Travis Alabanza recria uma agressão transfóbica sofrida em Londres, quando teve comida arremessada em sua direção, além de ouvir ofensas de todos os tipos.

Ainda como reflexo deste cenário, especialmente contra as mulheres, outros dois espetáculos ganham destaque. Em “Sábado Descontraído”, a dançarina Dorothée Munyaneza, nascida em Ruanda e radicada na França, apresenta um panorama feminino da guerra ocorrida no país africano no início dos anos 1990.

Já Mallika Taneja encena “Tenha Cuidado”, sobre o peso das tradições no cotidiano da mulher indiana. “Mesmo em culturas diferentes, são obras que evidenciam a perspectiva violenta do universo feminino com muita força”, diz Araújo.

Em paralelo à mostra internacional, a plataforma brasileira MITbr vai exibir 12 espetáculos. Destaque para “Cancioneiro Terminal”, do grupo Mexa, “Gota D’Água {Preta}”, de Jé Oliveira e “.violento.”, de Preto Amparo.

 

Destaques da programação

"Multidão"
No espetáculo, quase cinematográfico, atores manipulam o tempo e o corpo para criar movimentos coletivos em uma festa de música techno

"De Cor"
Entrelaçando frases autorais e citações de William Shakespeare e Boris Pasternak, o espetáculo mostra a relação do dramaturgo Tiago Rodrigues com a avó

"Tenha Cuidado"
O solo de Mallika Taneja discute a violência física e psicológica sofrida por mulheres indianas

"Sábado Descontraído"
Performance de Dorothée Munyaneza, em que ela narra os horrores que marcaram a guerra de Ruanda a partir de uma perspectiva feminina

Erramos: o texto foi alterado

O espetáculo “Gota D’Água {Preta}” tem direção de Jé Oliveira, e não do grupo Gira Pro Sol, que faz a produção geral. O solo ".violento' é de Preto Amparo, e não de Alexandre de Sé. O texto foi corrigido.

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