Jota Quest criou nova estética no pop, diz baixista; banda faz turnê por estádios

Grupo mineiro, que completa 25 anos de carreira, vai se apresentar em nove cidades entre junho e outubro

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São Paulo

Rogério Flausino ficou impressionado com o show de Milton Nascimento no Mineirão. “Já tinha visto um show dele, mas no teatro”, diz o vocalista do Jota Quest. “Tinha sido lindo, mas, em Belo Horizonte, você ver aquela quantidade de pessoas cantando junto é outra coisa. Olha o tamanho que ficou aquilo.”

A apresentação, dedicada ao Clube da Esquina, foi uma das inspirações para a nova turnê da banda conterrânea. O Jota Quest, entre junho e outubro, vai tocar em estádios de nove cidades, começando em Belo Horizonte e passando por Rio de Janeiro, Recife, Salvador, São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Curitiba e Fortaleza. As datas devem ser anunciadas pelo grupo no fim de semana.

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O quinteto mineiro Jota Quest, liderado por Rogério Flausino (abaixo) - Maurício Nahas/Divulgação

“A ideia é proporcionar aos fãs experiências que a gente ainda não viveu”, diz Flausino. “Isso significa levar nosso show para lugares maiores. O Brasil nos ajudou com esses novos estádios, mais bem equipados.” Assim como o show de Milton no Mineirão, as apresentações do Jota Quest serão no formato de anfiteatro, em que o palco é montado no meio do estádio, diminuindo a capacidade.

“É lógico que queríamos pegar o estádio inteiro e encher, mas esse formato traz um conforto —de não precisar vender 40 mil ingressos— e ao mesmo tempo ter essa atmosfera de arena”, acrescenta o guitarrista Marco Túlio.

Os shows coincidem com a comemoração dos 25 anos da banda. As apresentações, que devem ser longas e com convidados especiais, recuperam o repertório do Jota Quest, que recentemente lançou disco e filme em formato acústico.

A turnê vem num momento de pouca popularidade do rock. No ano passado, o Skank, conterrâneo e contemporâneo do Jota Quest, anunciou que encerraria atividades. Com isso, a banda de Flausino passou a ser uma das únicas sobreviventes —com a mesma formação— do rock dos anos 1990.

A esmagadora maioria dos grupos de rock bem-sucedidos da década, por razões diferentes, ou acabaram ou tiveram mudanças profundas no elenco. A lista inclui O Rappa, Planet Hemp, Raimundos, Sepultura, Nação Zumbi e Charlie Brown Jr., entre outros.

“Temos nossas brigas, mas acho que conseguimos manter uma sintonia em torno do nosso objetivo em comum —que é maior que os desentendimentos”, diz Marco Túlio.

“A nossa turma, do pop rock, tinha estilos diferentes, mas vendia bem. Tinha a MTV, que dava o caminho”, diz Flausino. “Quando chegam os anos 2000, vem a pirataria e, depois, o MP3. As gravadoras entraram em um declínio de investimento.”

Para o vocalista, o rock brasileiro e a MPB “sempre foram cuidados pelas gravadoras”. “Eram elas que bancavam o disco, conversavam com TV e rádio. Passaram a não investir nem nos artistas da casa, quanto mais contratar novos.”

O Jota Quest foi uma das bandas que viveu na pele as maiores transformações, do vinil ao streaming. “Entramos em estúdio para gravar um vinil, e saímos de lá com um CD”, lembra o baterista Paulinho Fonseca sobre o disco de estreia, de 1996.

Na época, o quinteto mineiro já estava habituado a fazer muitos shows, o que ficou mais comum com a derrocada da venda de álbuns físicos. “Sempre fizemos muito show. Talvez por isso nunca dependemos tanto dessa grana de gravadora. Muitos contemporâneos entravam na gravadora com uma postura mais desleixada, como se aquilo fosse o passaporte para o sucesso”, diz Marco Túlio.

Flausino acrescenta: “Muita gente foi demitida, fecharam escritórios no Brasil inteiro. O que a gente fez? Botamos dinheiro nosso, procuramos apoio privado.”

Além da forte presença nos palcos, o Jota Quest entra nos anos 2020 preparando novo álbum de inéditas. Depois de trabalhos dedicados à black music, com a ajuda de gigantes como Nile Rodgers, o grupo deve se voltar ao seu lado canção.

A identidade sonora do grupo foi construída em torno desses dois polos —a black music dançante e o pop rock melódico. Para o baixista, PJ, esse som com a cara do Jota Quest foi firmado em “De Volta ao Planeta”, segundo disco do grupo, de 1998.

“Aquele álbum criou uma nova estética no pop. De ter um pop rock bem tocado, com influência da black music”, diz. “E era uma banda feliz. Não precisava ser marrento para ser legal. Começamos cantando Tony Tornado e, de repente, viramos uma banda de rock.”

Para Flausino, a intimidade com os palcos e a vontade de tocar projetos inéditos é o que mantém o Jota Quest em atividade. “No ‘Acústico’, lembro de cantar ‘Encontrar Alguém’ e ver as pessoas dançando. Foi uma redescoberta do quanto essa música é legal. É uma sensação que você só vai ter se estiver ali, tocando. Não dá para viver sem essa energia.”

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