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Cinema

Retrato de uma adolescência em crise embasa filme 'Tarde para Morrer Jovem'

Longa da chilena Dominga Castillo, premiado em Locarno, tematiza incertezas de uma comunidade, formada no Chile pós-ditadura

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Neusa Barbosa

Tarde para Morrer Jovem

  • Quando Estreia quinta (27)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Demian Hernández, Antar Machado, Magdalena Tótoro, Matías Oviedo e Andrés Aliaga
  • Produção Chile, Brasil, Argentina, Holanda e Catar, 2018
  • Direção Dominga Sotomayor Castillo

Uma dramaturgia básica, descarnada, no estilo da argentina Lucrecia Martel, marca o drama chileno “Tarde para morrer jovem”, que deu à diretora Dominga Sotomayor Castillo o prêmio de direção no Festival de Locarno 2018. 

Personagens adolescentes estão no centro de uma história ambientada em meados de 1990, quando chegam ao fim os 17 anos da ditadura de Augusto Pinochet. A referência é pouco explícita, no entanto.

Muito mais à tona no roteiro, assinado pela diretora, é um profundo desejo de renovação, quase de refundação, compartilhado por um grupo de adultos que abandonam Santiago e formam uma pequena comunidade alternativa no campo.

Sofia (Demian Hernández) é uma das adolescentes deste lugar, acompanhando o pai e um irmão menor e deixando para trás a mãe, que não quis acompanhá-los. Esta quebra familiar cresce em importância na trama, à medida que se reforça na garota o despertar sexual. 

Os sentimentos da história se expressam muito na pele de adolescentes, como Lucas (Antar Machado), cuja atração por Sofia parece não estar em sintonia com as procuras dela. Não sofrem menos as crianças, como Clara (Magdalena Tótoro), de 10 anos, filha de um pai doente e angustiada pelas fugas constantes de sua cachorra, Frida.

A espinha dorsal do filme, que tem uma vaga inspiração autobiográfica, é o contraste das aspirações dos adolescentes com as dos adultos, estes procurando colocar de pé sua utopia, que não cessa de desafiá-los nas dificuldades para obter água, luz e nas constantes ameaças dos incêndios florestais.

Os preparativos de uma festa de Ano Novo, na casa do casal formado por Elena (Antonia Zegers) e Carlos (Alejandro Goic), dá algum rumo às energias dispersas de jovens e adultos, procurando criar algum enraizamento para este pequeno projeto de país reinventado, em tempos que se mostram ainda misteriosos quanto às expectativas que se pode ou não ter. Haverá mesmo um futuro melhor?

A contenção nas interpretações, também uma marca inspirada no estilo de Lucrecia Martel, mostra-se, por vezes, excessiva, dificultando uma identificação maior mesmo com a protagonista, Sofia —atriz transexual que transborda na tela uma melancolia por vezes exasperante, mas que exprime a tônica de sua personagem com uma veemência que palavras não lhe dariam.

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