'Tanto fazia viver ou morrer', diz Bernardo Paz, inocentado de lavagem de dinheiro

Fundador do Inhotim tinha sido condenado a nove anos e três meses de prisão em 2017

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São Paulo

O empresário Bernardo Paz, fundador do Instituto Inhotim, foi absolvido da acusação de lavagem de  dinheiro pela Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, o TRF-1, de Brasília. A decisão, unânime, foi proferida na última terça-feira (11). Cabe recurso.

Paz tinha sido condenado a nove anos e três meses em reclusão pelo TRF-1 de Minas Gerais, em 2017. De acordo com a denúncia, apresentada pelo Ministério Público Federal em 2013, ele teria usado uma empresa criada para administrar doações ao Inhotim, a Horizontes, para encobrir repasses de ao menos US$ 95 milhões (cerca de R$ 207 milhões à época) a outros negócios em seu nome.

Nos anos analisados no processo, 2007 e 2008, Paz era dono da Itaminas, conglomerado formado por 29 empresas, a maioria da área de mineração e siderurgia.

O grupo chegou a ser negociado com uma estatal chinesa em 2010, a fim de liquidar as dívidas dos sócios, então estimadas em US$ 400 milhões (R$ 925 milhões). A operação não se concretizou, porém, e Paz ainda é dono do conglomerado.

Ainda a irmã do empresário, Maria Virgínia de Melo Paz, havia sido implicada no suposto esquema e condenada a cinco anos e três meses. Ela também foi inocentada.

Ao recorrer, o advogado de Paz, Sânzio Baioneta Nogueira, alegou que não houve prática criminosa, e que as provas apresentadas pelo MPF eram insuficientes.

“Foi como se tivesse caído uma bomba atômica na minha cabeça”, diz Paz, aos 69 anos, sobre o momento em que recebeu a notícia da condenação.

Bernardo Paz, fundador do Inhotim, museu a céu aberto localizado a 60 km de Belo Horizonte - Nelson Almeida/AFP Photo

“De lá para cá, deitei numa cama e não saí mais”, afirma. “Não fui no médico nos últimos dois anos porque, para mim, tanto fazia viver ou morrer. Nunca imaginei que meu nome fosse rolar num nível tão baixo.”

O Instituto Inhotim, museu a céu aberto que ele abriu ao público em Brumadinho (MG) em 2006, também passou por maus bocados desde então. 

Em janeiro passado, o rompimento de uma barragem de dejetos da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, não atingiu o parque. Mas fez cair pela metade o número de visitantes de fevereiro em relação à média dos anos anteriores.

Antes disso, em 2018, um surto de febre amarela na região já tinha afastado turistas, fazendo com que o ano fechasse com um público 25% menor do que o do ano anterior.

A situação financeira do museu refletiu esse cenário. Sua receita líquida caiu em um terço entre 2016 e 2018, e resultou em um aviso de “dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional do instituto”, repetido nos relatórios contábeis de 2017 e de 2018.

Desde o ano passado, porém, o Inhotim busca se reerguer. De um lado, criou um programa de gratuidade para a população da região, afetada pelo rompimento da barreira —cerca de 80% dos funcionários do museu moram ali. Conseguiu fechar o período com uma alta de cerca de 10 mil visitantes, ou 4% em relação ao ano anterior.

De outro, preparou uma série de novidades, entre elas um novo jardim e um templo de pedra do americano Robert Irwin, inaugurado em novembro passado. Este ano, abre um aguardado pavilhão dedicado a Yayoi Kusama, japonesa obcecada por bolinhas.

Em paralelo, Paz e o governo de Minas Gerais negociam um acordo de transferência de 20 obras do acervo de Inhotim para o estado. O objetivo é quitar dívidas de ICMS das empresas de mineração do empresário, que se arrastam por mais de 25 anos.

O Ministério Público se manifestou contra o acordo, que ainda está em tramitação.

Paz diz que, por enquanto, não pretende voltar à presidência do instituto, à qual renunciou semanas depois da condenação. Hoje, ela é ocupada por Antonio Grassi.

“Sou fundador, criador e consultor do Inhotim”, diz o empresário. “Mas ainda estou muito abalado. Não sei o que quero.” 

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