O artista plástico paulistano Nelson Leirner morreu na noite deste sábado (7), no Rio de Janeiro, aos 88 anos, após sofrer uma parada cardíaca.
Nascido em 1932, o pintor, desenhista, cenógrafo e professor, considerado um artista multimídia, era filho da escultora Felícia Leirner e do empresário Isai Leirner, que ajudaram a fundar o Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Entre 1947 e 1952, estudou engenharia têxtil nos Estados Unidos, mas não concluiu o curso e passou a ter aulas de pintura com o espanhol Joan Ponç em 1956. Ele também estudou sob o artista Samson Flexor, conhecido por suas abstrações geométricas.
Leirner ficou famoso por atitudes iconoclastas. Em 1967, mandou um porco empalhado para um salão de arte em Brasília, que foi aceito como uma obra artística. Anos depois, o bicho ainda circularia por mostras mundo afora.
Notório crítico das idiossincrasias do mundo da arte, Leirner havia fundado no ano anterior, ao lado de Wesley Duke Lee e de Geraldo de Barros, uma galeria alternativa, a Rex, voltada a expor o que consideravam de mais bizarro nesse universo. Num dos "happenings" que ali promoveram, doaram tudo o que estava exposto a quem passasse pela galeria.
Em 2011, em entrevista à Folha, refletiu a respeito do status da arte em tempos de mercantilização. "Minha obra continua crítica, mas a crítica não funciona mais. Ela foi engolida, a sociedade aprendeu a consumir o artista. Não tem como criticar sendo consumido. Todos nós viramos marca registrada."
Dois anos depois, em 2013, um contêiner com 20 obras suas que julgavam estar perdidas foi encontrado em Nova York. Elas haviam integrado uma mostra com trabalhos do artista feita por uma galeria que fechou as portas e que nunca haviam sido devolvidas.
As obras só foram descobertas por causa das gravações de um reality show, "Storage Wars", que trata justamente de pessoas que compram contêineres esquecidos em armazéns americanos. Entre os trabalhos estavam fragmentos de uma versão da instalação "Bala Perdida", que traz imagens de figuras religiosas cravadas de balas de revólver.
Em 2015, o artista foi mote de uma exposição individual na galeria paulistana Vermelho, que reuniu releituras que Leirner fez dos trabalhos de Leonardo da Vinci e Marcel Duchamp, criadas a partir dos anos 1960, além de peças inéditas.
Leirner era bastante conhecido pelas releituras sarcásticas das obras de outros artistas. Recriou composições de Mondrian com tramas de lã e encheu um falso aquário com vários tubarões de pelúcia —uma referência ao famoso tanque com um tubarão criado pelo britânico Damien Hirst.
O velório será aberto e realizado no Memorial do Carmo, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro, entre as 11h e 14h deste domingo (8).
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