Descrição de chapéu

CNN Brasil imita Globo até na adulação de Sergio Moro

Canal se vende como alternativo, mas copia política editorial e cobertura de sua rival

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São Paulo

A CNN Brasil se pretende um novo "padrão", na expressão do apresentador William Waack nos comerciais da franquia. Uma outra "voz" na mídia brasileira, como declarou o mesmo Waack. Em suma, uma opção à Globo.

Mas não fugiu dela ou da GloboNews ao pôr no ar sua programação regular nesta semana.

Em seu principal noticiário, o Jornal da CNN, ainda é a televisão que, ao discutir um novo pacote econômico, prioriza vozes como o consultor Maílson da Nóbrega, ex-ministro há três décadas, e a comentarista Thaís Herédia, que cumpria a função na GloboNews.

Nos debates que monta, busca vozes institucionais, do governo às montadoras, com divergências nuançadas, mas não de questionamento ao receituário, por exemplo, de redução do papel do estado —apesar do coronavírus.

A reverência ao poder, já evidenciada na entrevista com o presidente Jair Bolsonaro na noite de apresentação, prosseguiu na estreia do Jornal da CNN, com a entrevista de Waack e Caio Junqueira, ex-Crusoé, com o ministro Sergio Moro.

Este não foi questionado sobre as revelações da Vaza Jato. Pelo contrário, ouviu perguntas sobre a resistência do Congresso aos seus projetos, sobre como está "difícil combater a corrupção".

O que levou a respostas como "eu me vejo ainda mais como um técnico aqui no Ministério da Justiça" ou, manchete pela manhã no site do canal, seu ataque a "essa oposição que não é tão racional".

A postura editorial da franquia em relação às ações afinal reveladas de Moro e da Lava Jato é a mesma da Globo e da GloboNews, de recusa e supressão. Com o acréscimo de uma veneração intermitente ao poder, não só do governo Jair Bolsonaro.

Fora do institucional Jornal da CNN, ao longo do dia todo houve sinais de jornalismo crítico, por exemplo, na entrevista das apresentadoras Monalisa Perrone e Daniela Lima com o governador João Doria, do PSDBl, questionado insistentemente sobre seu apoio a Bolsonaro.

Doria acabou por expressar arrependimento do vínculo eleitoral que buscou no ano passado. Na mesma direção, também pelas mãos de Perrone, uma entrevista com o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi reveladora e promete mais para o domingo.

Mas voz de oposição, propriamente, só parece ter lugar no programa matinal que reúne Gabriela Prioli e Caio Coppolla num confronto próximo do cômico. Reproduz um erro histórico da CNN que vem do extinto "Crossfire".

Também aquele programa reunia um debatedor à esquerda e outro à direita, numa encenação de conflito. Anterior ao Facebook e ao YouTube, ele já exacerbava a polarização e se tornou inviável depois que o comediante Jon Stewart implorou, no ar: "Parem! Parem de ferir a América".

"Isso é teatro", falou ele, voltando-se para o debatedor à direita, Tucker Carlson, hoje na Fox News: "Qual é a sua idade?" "Trinta e cinco." "E você está usando gravata borboleta! Não estou sugerindo que você não seja um cara esperto. Mas isso é teatro. Não é honesto."

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