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CNN Brasil mostra que ainda não é páreo para GloboNews

Canal pode ter comido uma bola de proporções históricas ao optar pela discrição na cobertura dos panelaços

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“Não fazem parte da América do Sul, mas é bom que a gente possa ressaltar que Chile e Equador —que não fazem parte da América do Sul— também fecharam suas fronteiras há alguns dias aos brasileiros.”

A comentarista Basília Rodrigues queria dizer, é claro, que Chile e Equador não fazem fronteira com o Brasil. O ato falho, cometido diante das câmeras da CNN Brasil na manhã de quinta (19), viralizou rapidamente nas redes sociais.

Jornalistas erram todos os dias, ainda mais quando pressionados pelo tempo. Mas o deslize de Rodrigues —assim como o despreparo do comentarista Caio Coppolla, que levou uma surra de Gabriela Prioli na estreia de ambos no quadro “O Grande Debate”, exibido pelo CNN Novo Dia de segunda (16)— se tornaram emblemáticos dos ajustes que a emissora ainda tem a fazer pela frente.

O maior dos problemas é a exagerada reverência ao governo federal. É verdade que não se confirmou o temor de muita gente. Em sua primeira semana no ar, a CNN Brasil não se posicionou como um órgão extraoficial da comunicação estatal, como é sua congênere na Turquia. Houve críticas pontuais e contrapontos. Mesmo assim, ainda não sumiu por completo a sensação de que o canal é uma Record News gourmetizada.

Enquanto isso, o jornalismo da Globo deu um show, tanto na TV aberta como na GloboNews. O contraste já se escancarou na noite de domingo (15), quando a CNN Brasil entrou no ar. Ao mesmo tempo em que a nova emissora exibia matérias pré-gravadas e cenas de sua festa de inauguração, o Fantástico mostrava, em tom crítico, o rolê de Jair Bolsonaro na manifestação a seu favor em Brasília, enquanto boa parte do país se recolhia por causa da pandemia do coronavírus.

Essa atitude irresponsável do presidente galvanizou os primeiros panelaços noturnos contra sua figura, que sacudiram bairros de classe média nas principais cidades brasileiras na semana passada. A Globo e a GloboNews abriram farto espaço para os protestos em seus noticiários —sem deixar de informar que, na quarta (18), também houve panelaço a favor de Bolsonaro, bem mais discreto do que os contrários.

Já a CNN Brasil primou pela discrição. Registrou os panelaços, mas não se estendeu sobre o assunto. E, assim, pode ter comido uma bola de proporções históricas. Não deu a devida atenção ao momento em que os ventos políticos, aparentemente, começam a virar no país. Justamente em sua primeira semana no ar.

A CNN Brasil tem profissionais de altíssimo nível e competência. Também tem equipamentos de última geração e a chancela de uma das grifes mais conhecidas do mundo. Fez questão de se lançar como uma alternativa à mídia dominante do país —a Globo— e foi saudada por isso.

Mas deu o relativo azar de estrear numa semana quentíssima, em que quase toda a população está confinada em casa e de olho na TV. Foi bom para a audiência, nem tanto para a reputação. Ainda está a léguas da Globo e da GloboNews.

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