"Foi em um momento de grande ruptura e de muito isolamento que Virgínia Leite começou a se questionar sobre onde guardamos os nossos arquivos —mentais, sentimentais, emocionais, o que seja.
“É óbvio que era uma brincadeira. É como quando a gente diz ‘minha cabeça tá cheia, meu coração tá apertado’. Mas onde fica isso? Onde a gente guarda esse jogo mental e emocional?”, pergunta-se a artista plástica.
Esses questionamentos funcionaram como catalisadores para as obras que agora formam a exposição “No Coração”, que será aberta nesta quinta (5), no Centro Histórico e Cultural Mackenzie.
Os primeiros trabalhos datam do ano 2000. São pinturas em lona e desenhos em carvão que retratam corações recobertos por cera de abelha ou papel de arroz, mostrando que nem sempre o coração é um livro aberto e que “muitas vezes a gente não sabe o que sente quem está ao nosso lado”.
O período de estudo em um ateliê de cerâmica entre 2016 e 2018 fez surgir o desejo de dar tridimensionalidade a esses desenhos. E surgiram então as esculturas.
Na exposição são muitas as referências ao órgão vital, mas não só a ele. Andorinhas desde sempre atraíram o olhar da artista. Primeiro por achar kitsch as telas que mostravam as pequenas aves voando em bandos. Depois ao perceber, lendo o poema “História Natural”, de Drummond, que não era nada disso.
A exposição se encerra com andorinhas em voo em três grandes telas.
“Andorinhas copulam no voo/ O mundo não é o que pensamos”, diz o mineiro em seu poema.
“A vida é isso, é mais simples”, completa a gaúcha.
Graduada em educação artística pela FAAP em 1984, Virgínia estudou história da arte no museu do Louvre e gravura em metal em um ateliê em Paris. De volta ao Brasil, cursou tecnologia têxtil no Senai e foi trabalhar nessa área, mas não abandonou as artes plásticas.
Após várias coletivas, faz agora a sua primeira exposição individual."
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