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Das favelas cyberpunk, 'Final Fantasy 7' renasce e tenta superar o game original

Versão turbinada do clássico de 1997 deve ir bem nas vendas e na crítica, ao contrário do que ocorre com remakes de cinema

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São Paulo

A fictícia cidade de Midgar tem prefeito, mas é só de fachada. O monopólio legítimo da violência fica nas mãos de uma empresa privada, a multinacional Shinra Inc., que explora uma fonte de energia chamada de mako.

Um grupo de rebeldes que habita as favelas desta metrópole cyberpunk tenta sabotar a companhia, levantando bandeiras que flertam com ambientalismo e direitos humanos.

Estamos falando da introdução de “Final Fantasy 7”, clássico de 1997. O game ganhará um remake em breve, a ser lançado em 10 de abril, e é um dos títulos mais aguardados do ano —em listas de “Most Anticipated Games of 2020”, da Wired ao The Guardian, “FF7” é habitué.

Uma demo (demonstração) gratuita com cerca de uma hora já pode ser baixada na PlayStation Store.

O protagonista, Cloud, é um ex-soldado da Shinra Inc. que se junta aos rebeldes, a princípio apenas para uma missão de implantar uma bomba numa usina da empresa, numa investida ecoterrorista.

O personagem principal vai se revelando aos poucos, e não dá para confiar 100% no que diz. Na verdade, ele mesmo desconfia de si. Não sabe se as lembranças que ele diz ter aconteceram de fato ou se foram fabricadas em sua mente.

Naquele 1997 pré-“Black Mirror”, quando ainda se esperava o bug do milênio, o enredo e a estética de “Final Fantasy 7” eram capazes de dar um nó na cabeça de quem o jogava.

Passaram-se 23 anos desde então, e o estado da arte da computação gráfica é outro.

Jogadores atuais que se aventuram na versão do século passado, sobretudo —mas não só— aqueles criados a leite com pera, podem sentir um estranhamento ao controlar personagens que lembram bonequinhos de Playmobil, se movendo em meio a uma história complexa com subenredos políticos e psicológicos.

Uma análise da revista Hollywood Reporter, assinada pelo editor de games da publicação, arrisca um diagnóstico: “A indústria de jogos é relativamente jovem e, como resultado, a tecnologia que os produz está em constante evolução. Jogos clássicos, portanto, costumam ser vistos como incrivelmente datados quando comparados às ofertas de hoje”.

Enquanto os remakes de videogame mais recentes têm tido recepção positiva da crítica, acontece o oposto com as refilmagens de clássicos do cinema. São comuns críticas, especializadas ou não, de que a indústria do audiovisual sofre de falta de criatividade.

“Ninguém faz remakes de fracassos, certo?”, diz a crítica de cinema Neusa Barbosa. “O filme original, que é cultuado, sempre fica na memória de muitos e pode ser revisto. Superá-lo é uma verdadeira façanha, quase impossível. Em geral, são decepcionantes, como o ‘Psicose’ de Gus Van Sant, terrível se comparado ao original de Alfred Hitchcock, ou ‘Cidade dos Anjos’, de Brad Silberling, uma sombra do cult ‘Asas do Desejo’, de Wim Wenders.”

O “Final Fantasy 7” turbinado pode ainda ser uma promessa, mas o jogo mais bem avaliado de 2019, segundo o agregador de críticas Metacritic, foi um remake, “Resident Evil 2”. A sua versão original, de 1998, tem uma nota de 89 no site, numa escala de zero a cem, enquanto a do no passado a superou, com 91.

Outro exemplo é “Shadow of the Colossus”, lançado em 2005. O remake de 2018 se equipara ao original no agregador —ambos têm nota 91.

“Os remakes de videogame funcionam porque são a antítese dos remakes de filmes. Eles honram a visão original elevando-a ao que pretendiam ser, mas eram incapazes de alcançar devido a limitações tecnológicas”, escreve Patrick Shanley em sua análise na Hollywood Reporter.

Em entrevista ao Guardian, o codiretor Naoki Hamaguchi diz que o novo “FF7” é fiel ao original, mas pretende preencher lacunas que a tecnologia de 1997 não permitiu.

O material do remake disponibilizado até agora mostra, de novidade, que os gráficos atualizados atingem o nível visual que se espera de um game AAA de 2020. Mas talvez a principal mudança esteja na jogabilidade, com destaque para o modo de batalha.

Na versão dos anos 1990, um RPG puro-sangue, os confrontos seguem uma linha bem semelhante aos da franquia “Pokémon”, da Nintendo, em que o ataque é feito por turnos e não se demanda reflexos rápidos do jogador —o que não quer dizer que seja fácil.

No “FF7” de 2020, a batalha é mais dinâmica, o jogador tem de saber se defender e esquivar na hora certa.

A faceta RPG permanece, afinal a narrativa ainda parece ser “o coração e a alma” do jogo —embora esta nova versão também possa ser entendida como um game de ação ou “hack and slash”, de combate corpo a corpo.

Os mais nostálgicos podem escolher o modo de batalha clássico no menu inicial.

A nova versão virá em episódios, ou seja, por enquanto somente a primeira parte da história original de Cloud e sua gangue será contemplada.

“É possível que esse jogo seja um dos destaques do ano em termos de venda e em termos de crítica. Mas em termos de impacto cultural... Olha, eu aposto as minhas fichas que foi o de 1997 e ninguém tasca”, diz João Varella, autor do livro “Videogame, A Evolução da Arte” (ed. Lote 42).

A constante busca por atualização está presente em toda a indústria cultural.

A diferença é que games dependem de plataformas, e conseguir ter acesso a jogos restritos a versões mais antigas dos consoles nem sempre é fácil. Assim, clássicos podem correr o risco de passarem despercebidos pelas novas gerações.

Não é o caso do “Final Fantasy” de 1997, que pode ser baixado facilmente hoje por menos de R$ 20 no computador.

Final Fantasy 7 Remake

  • Quando Lançamento em 10 de abril
  • Preço R$249,90 (pré-venda) na PlayStation Store
  • Produção Japão, 2020
  • Desenvolvedor Square Enix
  • Plataforma PlayStation

Final Fantasy 7

  • Preço R$ 19,99 no Steam (PC); R$ 33,25 na PlayStation Store; R$ 49 na Microsoft Store
  • Produção Japão, 1997
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