'Diziam que meu pai tinha escrito', diz Femi Kuti sobre seus primeiros discos

Saxofonista, que toca no país, diz que seu maior desafio foi achar sua alma enquanto o comparavam a Fela Kuti

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São Paulo

Em 1984, Fela Kuti tinha um show marcado no Hollywood Bowl, mas não conseguiu chegar a Los Angeles. “Meu pai tinha sido preso injustamente”, lembra Femi Kuti, seu filho mais velho, que na época tocava sax com ele na banda Egypt 80.

“Foi inesperado, mas conseguimos tocar. Acabei liderando a banda por dois anos, até ele sair da cadeia”, diz Femi, que vem ao Brasil para shows no Nublu Festival, do Sesc.

Femi Kuti durante show no México - Secretaría de Cultura CDMX

Quando foi alçado à linha de frente da Egypt 80, Femi tinha o sobrenome de líder, mas o DNA não era suficiente para lhe render o título de príncipe do afrobeat —gênero criado por Fela, que mistura jazz, funk e a música iorubá. Em 1986, ele fundou o próprio grupo, Positive Force, e iniciou a busca por sua identidade artística.

“Aprendi sax, piano e trompete sozinho. Via meu pai tocar, lia livros e ouvia jazz”, diz.

Desde 1995, Femi já lançou dez discos. Mas foi só em 1998, com “Shoki Shoki”, que ele chamou a atenção dos fãs de música, com a ideia de modernizar e expandir o afrobeat.

Enquanto atualizava o discurso politizado do pai, Femi destacava mais os aspectos dançantes do que os jazzísticos do afrobeat, em faixas mais curtas e diretas (cerca de cinco minutos) que as de Fela (não raro passavam da meia hora).

“Meu maior desafio foi achar minha alma. Todo mundo me comparava a meu pai, diziam que não poderia ser como ele. Nunca foi minha intenção, só queria ser um bom instrumentista e fazer músicas boas. Me estressaram muito com isso.”

“Diziam que meu pai tinha feito as músicas”, lembra Femi, sobre seus primeiros hits.Ele acredita que foi só depois da morte de Fela —em 1997, em decorrência da Aids—, que passou a ser respeitado. “Sabiam que meu pai não estava mais ali para fazer a música.”

“Beng Beng Beng”, primeiro hit de Femi, chegou a ser censurada pelo governo nigeriano. “Nem era uma música política, mas foi banida. Nas rádios, não tocam minhas músicas.” Sobre as denúncias de censura por parte do governo brasileiro atual, Femi diz que a situação deve deixar os artistas mais fortes. “Hoje, com as redes sociais, você faz o que quiser. Isso não deveria impedir ninguém de pôr seus sentimentos reais nas músicas.”

Em seus últimos trabalhos —em especial no disco “One People One World”, de 2018—, Femi tem se mostrado mais pacífico e otimista. “Gosto de pensar que o mundo é uma grande casa, e não podemos morar sozinhos. Apesar de ser muito pan-africanista, gosto de ser global no que faço.”

Femi afirma que a corrupção na Nigéria permanece e que os governos continuam “cegos à pobreza”. “Quando você entende a colonização e a escravidão, vê que não vamos sair disso em cinco anos. Talvez mais uns cem. Temos que continuar lutando, ouvindo a música do meu pai e fazendo nossos filhos acreditarem que a geração deles pode fazer a diferença.”

Femi Kuti

  • Quando Quarta (12) em São Paulo; sábado (14) em São José dos Campos
  • Onde Sesc Pompeia, Rua Clélia, 93, São Paulo. Sesc São José dos Campos, Av. Dr. Adhemar de Barros, 999
  • Preço R$ 60 (São Paulo) e R$ 50 (São José dos Campos)
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