Exposição que tem fotos de ânus é censurada em galeria de Santa Catarina

A mostra foi interditada no dia seguinte à inauguração e espaço cultural permanece fechado

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São Paulo

A Galeria Municipal de Arte de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, está fechada desde o dia 6 de fevereiro e artistas acusam a Fundação Cultural, órgão responsável pela administração do espaço, de cometer censura com mostra que contém imagens de nudez.

A exposição “Ruína” foi inaugurada no dia 5 de fevereiro, mas foi retirada de cartaz no dia seguinte. Beatriz Mattar, presidente da Fundação Cultural, disse à Folha que recebeu uma denúncia anônima de "um cidadão incomodado com os conteúdos das obras", que, segundo ela, não eram de seu conhecimento anteriormente.

Os artistas da mostra, contudo, afirmam que a presidente sabia do conteúdo e que a exposição apresentava aviso de classificação indicativa para maiores de 18 anos, o que é mostrado em fotos tiradas no dia da inauguração.

"Ruína" surgiu pelo projeto cultural "Experiência Lote 84", que foi patrocinado pela Lei de Incentivo à Cultura de Balneário Camboriú. Após, uma série de oficinas e encontro com cerca de 30 pessoas, 12 artistas se reuniram para promover uma intervenção em forma de protesto a problemas no espaço da Galeria Municipal, que desde 2017 vem sendo interditado sucessivas vezes devido a danos no telhado, como acúmulo de goteiras.

Mattar confirmou a informação, mas afirmou que foi "pega de surpresa" com o conteúdo das obras, que definiu como destoante do objetivo.

A presidente disse ainda que os artistas da exposição descumpriram uma série de regras estipuladas pela fundação e, principalmente por isso, a melhor opção que encontrou após a denúncia anônima foi cancelar a exibição da mostra e interditar a galeria.

A obra "Buraco", de Luluca L., mostra o ânus da artista em fotos adesivas, que foram coladas no chão e nas paredes do espaço. Luluca explicou à Folha que sua obra faz "uma simbiose com um buraco no teto da na galeria", tem várias referências contextuais e é fragmento de uma outra obra sua.

"Sim, é meu cu", afirmou. A artista disse também que na exposição estavam presentes imagens de "pés, olhos, boceta, teta, pau, várias partes do corpo porque é o que a gente tem".

Segundo Luluca, a presidente da Fundação Cultural sugeriu que ela trocasse "o cu por um umbigo, um buraco pelo outro".

"Estar sendo censurada em 2020 é assustador", disse a artista. Para ela, a abordagem da obra era irônica e divertida, pois permitia interação com o público, que podia colar e descolar adesivos de "Buraco" pelo espaço da mostra.

"Acho que censura é uma palavra forte”, criticou Mattar. Ela justificou que o cancelamento da exposição ocorreu por inviabilidade técnica decorrente de "diversas falhas" do grupo artístico.

"Quanto à contrapartida, não houve comunicação formal para avaliação do conteúdo, do plano expográfico e em diversas ocasiões, os responsáveis pelo projeto foram alertados que a galeria estaria com problemas de infraestrutura para receber obras de arte, inclusive chovendo dentro do espaço comprometendo a segurança do público e das obras. Nós realmente não queríamos abrir o local antes das adequações físicas, fato esse que já está em trâmites de elaboração de reforma e lançamento da licitação para a execução do serviço", disse Mattar.

Embora critique a mostra, Mattar estava presente na inauguração e confessa que "não se isenta da culpa de erros no trâmite do processo". 

Nesta terça-feira (3), o grupo de artistas e a advogada Nanashara Piazentin, que os representou, se reuniram com o Conselho Municipal de Políticas Culturais para estudar as possibilidades da Fundação Cultural reabrir essa exposição. A solicitação, contudo, foi negada.

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