Descrição de chapéu
Maratona Televisão

Falta drama para 'Todxs Nós' não ser só panfleto sobre diversidade LGBT

Série da HBO tem boas intenções, mas 1º episódio não ultrapassa bolha do universo colorido paulistano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Todxs Nós

  • Quando Estreia neste domingo (22), às 23h
  • Onde HBO
  • Autor Vera Egito
  • Elenco Clara Gallo, Juliana Gerais, Kelner Macêdo
  • Direção Daniel Ribeiro

"A Maia é cisgênero, porque se entende como mulher", diz Rafa ao pai. "Mulher heterossexual, porque pega homem", acrescenta seu primo Vini.

Rafa continua. "O Vini é homem cisgênero homossexual, porque também pega homem." Maia, que divide o apartamento com os dois, entra na conversa. "Rafa, pessoa não binária." "Porque não se identifica nem como homem nem como mulher", esclarece Vini. "E pansexual", conclui Maia. Rafa, então, exclama triunfante: "Porque eu pego geral!".

Esta cena didática encerra o primeiro episódio de "Todxs Nós" (pronuncia-se todes). Criada por Vera Egito, Daniel Ribeiro e Heitor Dhalia, a série é uma comédia dramática protagonizada por três jovens às voltas com suas identidades na São Paulo contemporânea.

Rafa é o mais interessante dos três. Ou seria a mais interessante? Porque, apesar de nascida menina, ela (ou "ile") não se identifica plenamente com nenhum gênero. Fugiu do interior para se encontrar na cidade grande. E sempre fala de si em linguagem inclusiva, definindo-se como "ilustradore".

Vini é menos simpático. Os próprios autores o definem como ranzinza. Mas é Maia quem tem potencial para ser a mais chata de todos, porque não existe causa que ela não tenha abraçado. É vegana, feminista, militante negra e, é claro, pró-direitos igualitários.

Os três vivem num universo colorido, por onde circulam pessoas com roupas, cortes de cabelo e preferências sexuais pouco convencionais. Também é um universo curiosamente inofensivo, pelo menos no primeiro episódio. O único ponto de tensão é o pai de Rafa, que vai a São Paulo em busca do filho. Uma situação potencialmente explosiva é logo desarmada pela explicação dos amigos.

Vem algum conflito por aí? Autores garantem que sim. Afinal, a série se passa no Brasil de hoje, não exatamente um paraíso para a população LGBT. Homofobia e transfobia, somadas aos percalços naturais da idade dos protagonistas, devem dar o tom da temporada.

Repleta de boas intenções, "Todxs Nós" chega no momento em que os canais são cobrados por mais representatividade. Mas ainda falta uma certa dose de carga dramática, que faça o programa ser mais do que um panfleto. Por enquanto, ninguém saiu de sua bolha.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.