Descrição de chapéu Livros

Isolamento pode ser chance de enfrentar livros que assustam pelo tamanho

'Ulysses', 'Guerra e Paz' e 'Um Defeito de Cor' são alguns clássicos que o leitor agora pode desbravar

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São Paulo

O isolamento imposto pela crise do coronavírus readaptou a rotina de muita gente, mas pode trazer consigo uma oportunidade valiosa: quem sabe é hora de tirar da estante aquela leitura que você sempre adiou por ser grande demais?

Num tempo em que pululam cursos e atividades online para pessoas ociosas —afinal, por que não aproveitar as horas livres para se aprimorar?—, aquele clássico literário que seus amigos intelectuais sempre dizem que é imperdível pode finalmente entrar para o seu rol de conquistas.

Deixar a preguiça para lá e encarar a folha de rosto de um livro de várias centenas de páginas exige esforço. Mas não se deixe abater. Veja a seguir algumas indicações de livros que vão recompensar suas horas e horas despendidas.

'Guerra e Paz'

A edição mais recente do épico de 1865 de Liev Tolstói, pela Companhia das Letras, tem mais de 1.500 páginas. É um dos livros mais importantes de toda a literatura mundial, não raro sendo estudado também por especialistas de história e ciência política.

Com mais de 500 personagens, amplitude temática ambiciosa e descrições de alto detalhamento científico, é difícil delinear o escopo de "Guerra e Paz", mas basta dizer que ele olha para o período das guerras napoleônicas do ponto de vista russo, numa ficção com os dois pés calcados na realidade. É um dos romances pioneiros do realismo social, que daria o tom da literatura do fim do século 19.

'Em Busca do Tempo Perdido'

Não é hora de fazer piada sem graça, mas o clássico do francês Marcel Proust de fato é uma das reflexões mais potentes sobre a passagem do tempo da história da literatura e pode ajudar num momento em que o mundo se vê repensando sua rotina.

Mas também é uma leitura trabalhosa, dividida originalmente em sete livros de alto teor filosófico. A edição recente da Nova Fronteira, em três volumes, tem 2.472 páginas. Mas a quarentena talvez seja a chance de entender o que, enfim, aconteceu quando o narrador de Proust levou sua famosa madeleine à boca.

'Graça Infinita'

O romance de David Foster Wallace é conhecido na mesma medida por sua qualidade e por sua enormidade, tornando o título quase uma piada pronta. A primeira tradução da obra de 1996, que chegou por aqui em 2014 pelas mãos do craque Caetano W. Galindo, tem 1.144 páginas.

Mas a empreitada vale a pena. O enredo fala de uma família disfuncional que, numa América do Norte futurista engolida por lixo tóxico e ameaças terroristas, precisa lidar com a invenção revolucionária do pai morto —um filme que, de tão divertido, é capaz de matar o espectador.

Nada como uma leitura distópica para recalibrar o surrealismo destes tempos.​

Ana Maria Gonçalves
A escritora Ana Maria Gonçalves - Nathalie Bohm

'Um Defeito de Cor'

A obra de Ana Maria Gonçalves, de 2006, é a indicação mais recente de todas, mas se tornou rapidamente referência nos estudos de racismo e de literatura brasileira.

As 952 páginas do livro acompanham uma mulher idosa, à beira da morte, que vem da África ao Brasil procurar seus descendentes, contando no processo sua vida marcada por brutalidades e resiliência. Assim, redesenha-se a formação do povo brasileiro partindo ponto de vista da mulher negra —e de quebra se constrói um romance histórico de alta qualidade.

'Grande Sertão: Veredas'

A obra-prima de Guimarães Rosa não é propriamente gigantesca --a edição da Companhia das Letras que saiu ano passado tem 560 páginas--, mas sem dúvida se beneficia de um período de reclusão.

O cineasta Fernando Meirelles, por exemplo, já falou sobre como tinha tentado ler a história de Riobaldo e Diadorim na juventude por duas vezes, sem sucesso. Foi só quando quebrou o pé e se viu em confinamento obrigatório que se envolveu a ponto de terminar aquele que virou, então, seu livro favorito.

A linguagem tão própria de Guimarães, ao tecer uma trama ao mesmo tempo desbravadora e intimista, ganha muito com o transe que só a concentração completa por um longo tempo proporciona.

ulysses retirado da estante
O livro "Ulysses", de James Joyce, na estante do escritor Caetano Galindo - Theo Marques/Folhapress

'Ulysses'

Talvez o pai de todos os livros que todo mundo fingiu que leu, o romance de James Joyce é conhecido pela altíssima complexidade, estudado a rodo em universidades ao redor do mundo e possivelmente campeão em número de guias para ajudar na leitura.

A obra de 1922 atualiza a "Odisseia" de Homero para o seu tempo, mas, em vez de construir um épico com monstros e deuses mitológicos, acompanha o dia comum de Leopold Bloom em Dublin, na Irlanda.

Testando de forma experimental técnicas hoje comuns como o fluxo de consciência, a obra é amplamente considerada um dos maiores clássicos do modernismo do século 20. Talvez seja hora de ver se você concorda.

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