Fechada mais cedo por causa do coronavírus, feira de arte holandesa fatura milhões

Edição da Tefaf, encerrada após quatro dias, tinha de Tarsila a esculturas do antigo Egito

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Maastricht (Holanda)

Quando o coronavírus obrigou uma das maiores feiras de arte do mundo a fechar as portas quatro dias antes do previsto, no dia 11 de março, os únicos que lamentaram foram os visitantes de última hora.

O movimento, de 28 mil pessoas, foi 20% abaixo das médias diárias anteriores, mas os principais negócios já estavam garantidos na Tefaf Maastricht 2020.

É nos primeiros dois dias que museus do porte de Louvre, Metropolitan e MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, assim como os colecionadores bilionários, têm acesso restrito aos 30 mil metros quadrados em que 280 galerias de 20 países expõem pinturas, esculturas, antiguidades, joias, gravuras, arte tribal e obras de design.

Quando a exposição abriu para o público, no dia 7 de março, retratos de são Jerônimo e de santa Clara –óleos de Antônio Mouro– já haviam trocado de mãos por € 3 milhões, ou mais de R$ 17 milhões. Um bronze do imperador romano Lucio Vero, do século 2, foi vendido por € 950 mil, cerca de R$ 5,5 milhões, e uma tela da série "Diálogo" pintada no ano passado pelo minimalista coreano Lee Ufan, por € 500 mil, ou quase R$ 3 milhões.

"Abaporu 3", esboço da tela da modernista brasileira Tarsila do Amaral, disputava os olhares com concorrentes de peso –Van Gogh, Picasso, Jean Dubuffet e Marc Chagall, para ficar na primeira metade do século 20. O quadro foi vendido logo no primeiro dia, para um colecionador privado europeu, não identificado, e por um valor milionário, não revelado.

Homem caminha em frente à rascunho de 'Abaporu', de Tarsila do Amaral, em feira de arte
Homem caminha em frente a rascunho de 'Abaporu', de Tarsila do Amaral, na feira Tefaf Maastricht 2020, encurtada devido ao coronavírus - Danilo Verpa/Folhapress

Sigilo sobre o comprador é uma das regras do negócio, e são raros os preços divulgados. “Mas todo mundo sabe. Basta ver quanto o MoMA pagou no ano passado”, diz o marchand colombiano León Tovar, que negociou a obra. Em 2019, o museu nova-iorquino comprou “A Lua”, tela de Tarsila, por valor também não revelado, mas estimado em US$ 20 milhões, cerca de R$ 75 milhões à época.

Há normas bem mais estritas. Nenhuma obra entra na feira sem passar por microscópios, raios-X fluorescentes, exame minucioso de um comitê científico e atestado de “ficha limpa” –as peças são verificadas nas listas de desaparecidas da Interpol e na lista vermelha do Icom, o Instituto Internacional de Museus.

Tapetes orientais precisam ser tecidos antes de 1800, livros e manuscritos, anteriores a 1850, talheres feitos depois de 1870 não entram, e ícones gregos devem ser no máximo de 1900. Nos colares, brincos e anéis, são proibidos diamantes de até dois quilates e pérolas com menos de 30 gramas.

Mas o item indispensável para atrair os colecionadores e museus mais ricos do mundo a essa cidade de 120 mil habitantes a 211 quilômetros de Amsterdã, já na fronteira com a Bélgica, é a exclusividade. Nenhuma obra exibida na Tefaf pode ter sido vista em público nos cinco anos anteriores.

Depois que os convidados VIP encerraram as compras, o evento abre para quem se dispuser a pagar € 40, ou cerca de R$ 200.

É o dobro do que cobra o Rijksmuseum, museu nacional holandês. Ao mesmo tempo, isso garante um acesso impossível em outros locais de exibição. Esta repórter ficou a centímetros de uma urna grega de 565 anos antes de Cristo, sem caixa de vidro em volta para fazer reflexo, e poderia ter beijado, se quisesse, uma pequena escultura em forma de gato da deusa egípcia Bastet, do século 9 a.C.

Não há filas nem aglomerados em frente aos artistas mais famosos. Maior que a frequência às galerias era só o movimento nos cafés, com ostras por € 5, ou quase R$ 30, a unidade e champanhe por € 20, mais de R$ 100, a taça.

É um público que até desfila Chanel e Zegna, mas passa apressado pela delicada gravura de uma cortesã desenhando as sobrancelhas (“Mayuzumi”, de Ito Shinsui) ou a exuberante águia americana de Andy Warhol enquanto perde minutos tirando selfies no saguão de entrada, onde milhares de flores naturais formavam um painel de sete metros de altura.

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