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Livros

'O Fazedor de Velhos 5.0' tem ótimas referências, mas escrita exagerada

Rodrigo Lacerda publica continuação de um de de seus principais romances, lançado há 12 anos

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O Fazedor de Velhos 5.0

  • Preço R$ 49,90
  • Autor Rodrigo Lacerda
  • Editora Companhia das Letras

Lançado há 12 anos, “O Fazedor de Velhos” é um importante romance de formação de uma geração que, pelas suas páginas, foi apresentado à literatura não só como uma forma de arte, mas também como salvação em momentos complicados da existência humana, em especial a transição da adolescência para a vida adulta.

Pedro, seu protagonista, que naquela época se valia do pano de fundo das letras para lidar com o autoconhecimento, volta agora às páginas em uma nova incursão do autor Rodrigo Lacerda. À beira dos 50 anos, três filhos, Pedro continua conectado aos livros em “O Fazedor de Velhos 5.0”.

Escritor de relativo sucesso, com alguns romances no currículo, ele se apresenta ao leitor já com a carreira de lado, substituída pela ocupação de avaliador –sua rotina profissional se resume a garimpar primeiras edições, manuscritos e documentos para uma companhia de leilões.

A orelha da nova publicação avisa que ela é independente da primeira. Mas leitores de ambas ficarão felizes ao saber que o romance iniciado nas páginas de 12 anos atrás vingou. Pedro se casou com a namorada da época, Mayumi, que, no entanto, morreu de câncer quando o filho mais novo do casal tinha apenas um ano.

É na relação com a filha do meio que a narração de Lacerda se mostra mais habilidosa. A cena em que o protagonista descobre que será avô é uma das melhores do livro, com humor na medida e uma prosa cheia de ritmo. Estela tem só 19 anos e está grávida do namorado, um líder estudantil brilhantemente batizado de Marmita.

O autor opta por alternar narradores para contar a história do primogênito, Carlos, em um recuo no tempo do romance. Há um sutil ajuste na linguagem, como que para deixá-la mais jovial, mas expressões como “papo” e “micada” soam como –para aproveitar as gírias – uma "forçada de barra" no clima.

Vícios como infinitas reticências, exclamações e parênteses, aos quais Lacerda recorre também para antecipar situações, apagam a luminosidade do discurso, assim como acontece como o exagero no uso de adjetivos para falar de imagens como o “maldito Réveillon” e a “indefectível tacinha de champanhe”.

As referências artísticas presentes em “O Fazedor de Velhos 5.0”, no entanto, reafirmam a vocação tanto de Pedro, quanto de seu criador, de compartilhar cultura de qualidade. Pela boca do protagonista, Lacerda expõe seu conhecimento em universos tão diversos quanto o da música clássica e o do futebol de botão. É impagável, por exemplo, a cena do confronto intelectual entre o ex-escritor e um crítico, antigo desafeto.

Outro momento cativante é o do primeiro encontro amoroso de Pedro depois da morte da mulher. Com ternura, Lacerda consegue descrever os sentimentos de confusão, inadequação e encantamento típicos da situação, e que, já há dois livros, seu protagonista enfrenta com bastante dignidade.

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