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Cinema

Streaming da Spcine tem belo catálogo com filmes de Mojica e Babenco

Empresa pública do audiovisual paulistano resguarda e disponibiliza de graça cinema plural e de qualidade

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Mal a Covid-19 aportou entre nós, o streaming da Spcine já estava pronto e aberto, um belo serviço de utilidade pública que pode ser acessado bastando escrever “Spcine Play” ou “Spcine streaming” na linha de busca do computador.

E ele vem com um belo catálogo (gratuito), no qual se pode encontrar de Hector Babenco a José Mojica Marins, de Leon Hirszman a Andrea Tonacci, de Ana Carolina a Tata Amaral, de Sylvio Back a Lucia Murat. E por aí vamos.

É preciso dar um desconto a uma parte das cópias. Sobretudo as de Mojica parecem estar precisando de um restauro urgente e à altura de sua imaginação delirante.

Paulistano que é, esse streaming não negligencia filmes que nos chegaram pela Mostra Internacional de Cinema.

E temos aqui um punhado de obras-primas pouco vistas, mas nem por isso menos importantes, a começar pelo fascinante “O Estranho Caso de Angélica”, de Manoel de Oliveira, e seguindo com outro nome central do cinema contemporâneo, Tsai Ming-Liang, que comparece com seu “Cães Errantes”, ou ainda o chileno Patricio Guzman, que no documentário (se se pode chamar assim) “O Botão de Pérola” mergulha fundo nos horrores da ditadura Pinochet.

Se este é também um streaming que se abre à descoberta de uns tantos filmes, se a parte musical transita sem preconceitos entre Cartola e Gretchen, alguns filmes chamam a atenção pelo que eles têm de quase inéditos.

Pois “O Rei da Noite”, apesar do prêmio de melhor ator dado a Paulo José no Festival de Brasília de 1976, jamais ganhou a notoriedade dos filmes de Hector Babenco, a partir de “Lúcio Flávio”, que fez logo a seguir.

O cineasta Hector Babenco fecha os olhos em cena do documentário 'Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou', dirigido por Bárbara Paz
O cineasta Hector Babenco fecha os olhos em cena do documentário 'Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou', dirigido por Bárbara Paz - Acervo Pessoal

“O Rei da Noite” surpreende por fugir ao apelo político que marcou boa parte da obra do cineasta. Ele se dedica aqui ao melodrama em que a figura central é Tertuliano, que por volta dos anos 1930 do século passado é forçado a renunciar a seu amor por Aninha devido à doença que a consome e que a obriga a se retirar a um sanatório.

Sua vida girará em torno do amor perdido e de certos amores que, quase por vingança, viverá, entre eles com a “rainha da noite” Pupi (Marília Pêra) e com Maria das Graças (Vic Militelo).

O filme tem lá seus desequilíbrios, uma tendência por vezes excessiva a emular o tipo de dramaticidade de Nelson Rodrigues, o fato de a história de Pupi interessar muito mais ao realizador do que o casamento tradicional de Tertuliano, por exemplo.

Mas seus aspectos fortes não são menos marcantes, a começar pela bela direção de atores (não apenas Paulo José, mas também Marília Pêra e Vic Militelo estão notáveis), no cuidado nos aspectos técnicos (a fotografia de Lauro Escorel e a montagem de Sylvio Renoldi são sintomáticas dessa característica de Babenco, tanto quanto a reconstituição de época).

Por fim, seja por Babenco vir da Argentina ou não, o provincianismo e o atraso brasileiros (paulistas, no caso) são aspectos a reter nesse primeiro exercício do cineasta na ficção.

Estaria sumido não fosse, aliás, o belo trabalho que Laís Bodanzky está fazendo na Spcine, a empresa municipal responsável pelo setor audiovisual na capital paulista. Antes ainda da Covid-19, conseguia dar vida ao cinema que o governo federal tanto se esforça para sufocar.


SPCINE PLAY

Preço Grátis

Onde Disponível no site spcineplay.com.br


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