Streaming tem estouro de audiência com pandemia, mas pirataria também cresce

Coronavírus traz alguns reveses para a indústria do audiovisual, mas também pode ser boa para os negócios

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São Paulo

Cinemas e teatros estão com as luzes apagadas. Sair para beber com a galera é um ato impensável.

Dentro dos shoppings, só as farmácias funcionam. E a recomendação das autoridades é clara —fique em casa. Tudo para frear o avanço da pandemia de coronavírus no Brasil.

Neste cenário de monotonia, em que ficar recluso é nosso dever e nossa salvação, é natural que as pessoas recorram à televisão ou à internet para que a quarentena passe mais depressa

E, enquanto salas de cinema mundo afora estão fechando uma a uma, os cardápios de filmes e séries de serviços de streaming e os canais fechados têm tudo para ser o consolo em tempos difíceis.

Serviços de streaming têm estouro de audiência com a pandemia do coronavírus - Dado Ruvic/Reuters

Já cientes disso, diversas operadoras de TV paga e plataformas de conteúdo sob demanda começaram a liberar o sinal de alguns canais, a oferecer assinaturas gratuitas e a promover descontos. Na Itália, até mesmo o site pornô Pornhub liberou seus vídeos premium.

Mas, ao mesmo tempo, a União Europeia precisou pedir à Netflix que transmitisse seus títulos em qualidade mais baixa, a fim de não sobrecarregar as redes de internet do continente. A empresa acatou a solicitação na semana passada e vai seguir a recomendação pelos próximos 30 dias. Por enquanto, os brasileiros seguem podendo assistir às séries e aos filmes em HD.

A situação escancara o quanto a Netflix vem sendo procurada de maneira acentuada por aqueles que estão em isolamento —seja ele voluntário ou não. A empresa não revela dados de audiência e informou à reportagem que, por ver a situação atual como atípica e sensível, tem evitado comentar o assunto.

Isso não quer dizer, no entanto, que ela esteja imune ao vírus. Mesmo com a alta procura —comprovada por dados do Google, que tem visto o nome da plataforma ser buscado com mais frequência desde a última semana—, a Netflix sofreu um baque ao precisar cancelar gravações de algumas de suas séries, como a quarta temporada de “Stranger Things”, para preservar a saúde de seus funcionários.

A mesma medida precisou ser adotada pela Amazon, que suspendeu as filmagens de “Carnival Row”. “A Amazon não divulga números ou dados relativos ao serviço [Amazon Prime Video] e seus assinantes. Focados na saúde e segurança de nosso elenco e equipes técnicas, confirmamos
que os trabalhos foram pausados para todas as séries originais”, informou a plataforma.

Enquanto Netflix, Amazon e HBO, também procurada pela reportagem, não divulgam dados de audiência, o portal JustWatch não sofre da mesma timidez. Uma espécie de guia do streaming, o site informa aos usuários onde assistir a qualquer filme e série.

Ele recebe cerca de 15 milhões de acessos mensais —que aumentaram vigorosamente nos países mais atingidos pela pandemia atual.

De acordo com dados da empresa, o acesso de espanhóis ao site aumentou em 85% nas duas últimas semanas. Para os italianos, o acréscimo foi de 76%. Já o aumento de tráfego no Brasil, entre 9 e 17 de março, foi de 37%.

Marcelo Spinassé, fundador da Looke, plataforma de aluguel de filmes, vê a pandemia de coronavírus como algo triste, obviamente. Mas ela pode ser boa para os negócios.

“Apesar de trágico, é sim uma oportunidade de ofertar nossos serviços a novos usuários”, afirma. “As pessoas estão receosas de sair, com toda a razão. Veja o movimento dos cinemas na última semana, ninguém quer se arriscar. As pessoas preferem ficar em casa.”

Pensando nessas pessoas, a Looke está oferecendo R$ 10 de crédito para todos os inscritos em seu site, que tem acervo com cerca de 15 mil títulos. No último final de semana, antes de a medida ser anunciada, o serviço já havia registrado aumento de 32% em seus acessos.

Quem também se prepara para o crescimento da demanda é a Globoplay. O streaming da Globo registrou, no último final de semana, os melhores números da plataforma neste ano. “Estamos preparados para o aumento da demanda, que deve subir ainda mais nos próximos dias”, afirma Erick Brêtas, diretor de produtos e serviços digitais do selo.

Até o próximo mês, a Globoplay disponibilizará uma parcela de seu cardápio para não assinantes, incluindo filmes da Disney —uma estratégia pensada para os pais de crianças que estão sem ir à escola, além de séries e novelas próprias.

“O público brasileiro é apaixonado por conteúdo audiovisual, seja na TV aberta, no streaming ou em outras janelas. Em um momento como esse, a variedade de ofertas dos streamings será uma opção ainda mais relevante não só de entretenimento, mas também de informação.”

Nos Estados Unidos, a Universal adotou uma medida inédita e que gerou reações de gratidão mundo afora. Percebendo que a vida útil do terror “O Homem Invisível” nos cinemas havia chegado ao fim por causa da pandemia, disponibilizou o filme para aluguel online. O mesmo aconteceu com outros títulos do estúdio.

A Covid-19 escancarou algo que todos, no fundo, já sabiam —a oferta de entretenimento domiciliar hoje é muito grande. É natural, portanto, que plataformas de streaming aproveitem o momento para garantir novos acessos e, no longo prazo, mais assinantes.

“Hoje em dia, as plataformas disputam seu tempo, porque há uma quantidade infinita de conteúdo, mas um tempo finito para acessá-lo”, explica Felipe Senna, consultor da Motion Picture Association, a MPA, associação representante dos cinco maiores estúdios de Hollywood mais a Netflix.

“A discussão no mercado hoje é quanto tempo eu consigo para que o usuário assista ao meu conteúdo. E nesse período de quarentena, mesmo com home office, obviamente vai sobrar um tempo extra.”

E, em meio à profusão de plataformas disponíveis no mercado, existem também os meios ilegítimos de chegar a séries e filmes. Um estudo recente da MPA indicou que, no Brasil, cerca de 73 milhões de pessoas acima dos 11 anos consumiram conteúdo pirata nos últimos três meses. E, no período de quarentena, é natural que esses números cresçam.

“O evento pandêmico é muito recente, mas como a gente já vê um prejuízo para o audiovisual, parece óbvia a afirmação de que os piratas vão aproveitar esse momento”, diz Andressa Pappas, diretora de relações governamentais da MPA .

“Ainda não existe uma estimativa sobre o tamanho do aumento [do consumo de conteúdos de forma ilegal], mas nossos estúdios estão trabalhando em soluções que sejam o menos prejudiciais possível.”

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