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The Weeknd fala sobre solidão em álbum com cara de fim de festa

Astro pop canadense junta os cacos de um relacionamento do qual não consegue se desfazer em seu quinto disco

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After Hours

  • Onde Nas plataformas de streaming
  • Autor The Weeknd
  • Gravadora Republic Records

“Não sei se consigo ficar sozinho novamente”, canta The Weeknd em “Alone Again”, primeira faixa de “After Hours”, seu novo disco. A solidão é um dos sentimentos que dita o clima da nova fase da estrela do pop e do R&B, que chega ao quinto álbum de estúdio cinco anos depois de estourar com um hit neodisco dançante e inescapável, “Can’t Feel My Face”.

Não deve ser coincidência que ele tenha mantido o lançamento de seu álbum para o fim da semana passada, mesmo em meio à pandemia de coronavírus e impossibilitado de fazer shows para divulgar o trabalho. Em vários lugares do mundo, as pessoas estão confinadas, a fim de evitar a propagação da doença.

o músico the weeknd com sangue na boca
capa do disco 'After Hours', de The Weeknd - Reprodução

Em entrevistas, The Weeknd tem dito que “After Hours” foi feito num período em que ele preferiu ficar em casa. “Não estou gostando de sair muito de casa. É uma dádiva e uma maldição porque me ajuda a ter atenção ao meu trabalho. Gosto de ser workaholic, acredito, ou só estou viciado nisso. Acho que me distrai da solidão”, ele disse à revista CR MEN.

Nas letras, o clima de autorreflexão vai e volta ao longo de todo o disco, conforme ele junta os cacos de um relacionamento do qual não consegue se desfazer. Na segunda faixa, “Too Late”, assume erros e diz que é tarde demais para salvar o namoro. Na penúltima, a faixa-título, contudo, busca uma reconciliação dizendo que “desta vez, não vou lhe decepcionar”.

The Weeknd fala de insônia e hábitos noturnos, além de um distanciamento da realidade que o leva a criar fantasias. As letras casam com a figura vampiresca do cantor, exibido com a boca escorrendo sangue em um retrato de cores frias na capa do álbum.

O clima viajado também se estende à sonoridade do disco, com graves robustos, batidas encharcadas de eco e sintetizadores atmosféricos, além de seus falsetes característicos. Nada soa como novidade, e sim como a soma de vários elementos já conhecidos da discografia de The Weeknd, da estética sombria ao aspecto futurista de suas produções.

Max Martin, experiente produtor que já trabalhou com todo o mundo, de Backstreet Boys a Taylor Swift, tem participação pesada no trabalho, assim como DaHeala e Illangelo, outros colaboradores frequentes do cantor. Mas, enquanto Martin anos atrás ajudou a alçar The Weeknd à primeira linha do pop mundial —participando de hits como “Can’t Feel My Face”—, há pouco desse pop chiclete em “After Hours”.

A maioria das faixas festeiras aparece na segunda metade do disco, incluindo o trap “Heartless”, com produção de Metro Boomin, e a mais contagiante do disco, “Blinding Lights”. Ainda assim, o canadense agora soa mais como trilha para um fim de festa, lembrando o Tears for Fears em músicas com cheiro dos anos 1980, entre elas “In Your Eyes” e “Save Your Tears”.

Ainda que tenha despontado no começo da década passada com a sofrência R&B que invadiu as rádios e playlists de streaming com nomes como Drake, The Weeknd não costuma soar tão reflexivo como em “After Hours”. É um momento posterior à fase de exposição —incluindo namoros com as celebridades Selena Gomez e Bella Hadid—, drogas, dinheiro e festas que seguiram seus discos mais bem-sucedidos, “Starboy”, de 2016, e “Beauty Behind The Madness”, de 2015.

Não à toa, em vez das participações de gigantes como Lana Del Rey, Kendrick Lamar e Daft Punk, The Weeknd surge quase sozinho em “After Hours”. Até por isso, encontra espaço para faixas mais autobiográficas, como quando recorda a própria trajetória, das dificuldades da juventude em Toronto até a fama e o dinheiro, na melancólica “Snowchild” —“hoje saio por Tribeca como se fosse o Jay-Z”.

Depois da euforia dançante, The Weeknd se encaixa na ressaca que vem tomando parte do pop com discos tristes e de superação, como os recentes de Justin Bieber, Selena Gomez e Mac Miller (este, um álbum póstumo). Ainda assim, o canadense consegue equilibrar melhor o drama e a pista de dança, mantendo uma linguagem própria que faz de “After Hours” não uma obra de ruptura ou readequação, mas a continuidade de uma discografia já inscrita no pop contemporâneo.

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