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Cinema

Acervo sob demanda do Belas Artes supre cinéfilo na crise do coronavírus

Clássicos incluem 'Morte em Veneza', de Visconti, além de títulos de Eisenstein, Rohmer, Mizoguchi, Losey e Buñuel

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Se o momento é de sobrevivência, eis um assunto que o Belas Artes conhece muito bem. Quem se esquece de um proprietário tentando tirar o cinema do lugar, e céus e terras movendo-se para que continuasse? E, contra as expectativas, continuou.

E quem se esquece que o governo Bolsonaro, decidido a dar um fim nessa história de cultura, retirou o apoio da Caixa ao conjunto de salas da rua da Consolação? Pois surgiu a cerveja Petra e o Belas Artes sobreviveu. Não só sobreviveu como, talvez adivinhando a borrasca que vinha, lançou a sua plataforma de streaming: o Belas Artes à la Carte.

Importa é que o “à la carte” supre em boa medida as necessidades de cinéfilos que já não suportam garimpar entre as inúmeras bobagens as coisas interessantes que a Netflix oferece. Não é, ainda, um repertório imenso, mas não lhe falta originalidade e audácia.

Quem ainda esperava encontrar “Intolerância” (D.W. Griffith, 1916) em streaming? Ou o filme inaugural do expressionismo alemão, “O Gabinete do Dr. Caligari”? Ou ainda algum Eisenstein? É de ficar de boca aberta sempre.

Se pularmos aos anos 1940, Robert Bresson comparece com “As Damas do Bois de Boulogne” (1945). Uma viagem ao Japão? De lá vêm os “Contos da Lua Vaga”, obra-prima de ​Kenji Mizoguchi (1954). Da nouvelle vague, a escolher: “Uma Mulher É uma Mulher”, de Godard (1961) ou os seis episódios de “Paris Visto Por...”.

Da Rússia recém-saída do stalinismo o melhor exemplo é “Quando Passam as Cegonhas” (Mikhail Kalatozov, 1957), já beirando o fim do regime soviético há “Vá e Veja” (Elem Klimov, 1985). Para não dizer que só de dramas vive esse “à la carte”, não faltam comédias como o francês “Três Homens e um Bebê” (Coline Serreau, 1985), ou o humor corrosivo de Buñuel em “O Anjo Exterminador”.

Não vamos nem falar dos 11 títulos de Eric Rohmer que estão por lá na plataforma.

Vale a pena, por ora, pôr em destaque “O Criado” (Joseph Losey, 1963) e “Morte em Veneza” (Luchino Visconti, 1971), ou seja, um dos maiores atores do cinema sonoro, Dirk Bogarde, com dois dos maiores diretores do sonoro.

Ver esses filmes sob a perspectiva do ator nos mostra, entre outras coisas, a sutil versatilidade de Bogarde, que pode transitar do perverso criado do filme de Losey ao perdido professor de Visconti.

Ambos os filmes supõem uma arte em que ator e diretor se integram perfeitamente na evolução de um personagem que deve coincidir com a evolução do filme, que aparece dominador a nós sem que seja suspeitado pelo patrão.

O nariz empinado é o mesmo, mas o tipo é o oposto do professor de olhos dispostos a buscar a imagem sonhada de Tadzio, o belo adolescente, a quem o zoom de Visconti busca com persistência, mas que parece sempre inatingível.

De quebra, ainda duas grandes atrizes comparecem nesses filmes: Sarah Miles (“O Criado”) e Silvana Mangano (“Morte em Veneza”). Para um tempo de cinemas fechados é uma atração e tanto.

Petra Belas Artes à la Carte

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