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Cinema

Banho de sangue entre URSS e Hungria é tema de filme de Tarantino

'Fúria em Jogo' explora disputa de pólo aquático em Olimpíada de 1956, que ecoou conflitos políticos reais entre as duas nações

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Fúria em Jogo

  • Onde Disponível na plataforma Belas Artes à la Carte
  • Produção EUA, 2006
  • Direção Colin Keith Gray

Desde os primórdios da história olímpica, a competição está repleta de passagens de superação, respeito, altruísmo, amor ao esporte e tudo de mais belo e lúdico que você possa imaginar. Nada disso, porém, se fez presente no duelo entre Hungria e União Soviética, nos Jogos de 1956. O esporte? Polo aquático.

Apelidado de “banho de sangue em Melbourne”, cidade que abrigou o evento, o confronto é a força motriz por trás de “Fúria em Jogo”, documentário de 2006 do canadense Colin Keith Gray, com nomes curiosos na produção executiva, como Quentin Tarantino e Lucy Liu —e que foi disponibilizado recentemente na plataforma Belas Artes à la Carte, gratuitamente até 29 de abril.

Imagem do filme "Fúria em Jogo", no catálogo do streaming do Belas Artes
Imagem do filme 'Fúria em Jogo', no catálogo do streaming do Belas Artes - Reprodução

Não precisa gostar de esporte para se envolver com o longa, que dá uma aula de história em um evento, digamos, menos famoso da Guerra Fria. A tensão entre húngaros e soviéticos era perceptível desde o fim da Segunda Guerra, quando Stálin libertou os húngaros, mas deixou seus tanques em Budapeste, transformando o país (assim como outros) numa espécie de Estado satélite.

Gray, também roteirista, costura com habilidade trechos históricos com depoimentos dos atletas húngaros e de outras testemunhas. Em 1956, poucos meses antes da Olimpíada na Austrália, as passeatas na capital, que começaram com estudantes, se tornaram mais contundentes e levaram ao evento conhecido como Revolução Húngara, com a expulsão dos soviéticos do país.

No entanto, após duas semanas de promessas de abertura para a democracia, o Exército Vermelho voltou com força e massacrou a oposição. Os líderes da revolta foram presos ou executados e mais de 200 mil húngaros fugiram do país. Tudo isso faltando poucos dias para o início dos Jogos.

Campeões na edição anterior, de 1952, os atletas de polo húngaros foram quase escondidos para a Olimpíada. Evidentemente, a tensão entre os países era perceptível desde a cerimônia de abertura. E quis o destino que Hungria e União Soviética tivessem um tira-teima mano a mano, a semifinal masculina de polo aquático.

Sim, polo é um esporte de contato, com chutes, beliscões e arranhões subaquáticos. Mas os húngaros jogaram como se estivessem na linha de defesa do Exército, com lances de puro pugilato.

A tática húngara de defesa e contra-ataques rápidos surtiu efeito e no segundo tempo a seleção já vencia por 4 a 0, em um ginásio lotado a seu favor. Os soviéticos, claro, eram os vilões.

Mas bastou um lance com o jogo já decidido para a partida entrar para a história e ganhar as manchetes do mundo. Foi quando o artilheiro Zádor, distraído, não percebeu que um irado soviético armou um soco, que acertou em cheio seu rosto, acima do olho. O corte fez com que Zádor saísse da piscina e ficasse instantaneamente coberto de sangue.

A torcida explodiu em revolta. Faltando poucos segundos para o fim, o juiz sabiamente terminou a partida.
Dias depois, contra os tradicionais rivais iugoslavos, a Hungria venceu novamente e chegou à desejada medalha de ouro. Mas foi a partida semifinal que entrou para a história.

O documentário ainda capta uma reunião entre os jogadores dos dois times quase 50 anos depois, já sem política ou ressentimentos, quando apenas o esporte estava em discussão. Tudo com a narração do americano Mark Spitz, maior nadador da história americana no século 20, e que chegou a ser treinado por Zádor.

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