Confira dez podcasts de arte que merecem ser ouvidos na era do coronavírus

Programas, em inglês, são opções de informação enquanto museus e galerias fecham as portas em meio ao coronavírus

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Jori Finkel
The New York Times

Muitos museus e galerias de arte fecharam as portas, em uma tentativa de desacelerar a difusão do coronavírus, mas a conversação sobre arte prossegue —e você pode conseguir sua dose de informações (e fofocas) sobre arte por meio do número cada vez maior de podcasts de arte disponíveis. Os apresentadores incluem curadores, críticos de arte e artistas.

Abaixo, minha lista de dez podcasts de arte que vale a pena ouvir, de um que destaca a música que inspira as artistas locais, em Los Angeles, a um podcast de Sydney cujo foco é a cultura dos aborígenes australianos.

'Recording Artists'

Helen Molesworth oferece visitas guiadas que ficam entre as mais incisivas e perceptivas entre as organizadas por sua geração de curadores de arte contemporânea, e seu novo podcast, “Recording Artists”, produzido pelo museu Getty, põe seu talento para a narrativa intelectual em uso da melhor maneira. O tema da edição mais recente não é uma das mostras que ela mesma organizou (recentemente Molesworth foi curadora da retrospectiva de Noah Davis na galeria David Zwirner), mas sim seis artistas renomadas —Alice Neel, Lee Krasner, Betye Saar, Helen Frankenthaler, Yoko Ono e Eva Hesse— cujas entrevistas com as historiadoras Barbara Rose e Cindy Nemser agora são parte dos arquivos do Instituto de Pesquisa Getty.

Jogada inteligente: depois de apresentar as artistas e as questões em debate, Molesworth pede a participação de seus inteligentes convidados, como Lari Pittman e Amy Sillman, que falaram sobre Krasner.

Momento memorável: em uma das gravações, Neel, famosa pela vida muito boêmia e pelos retratos que pintou de figuras de todos os quadrantes da sociedade, admitiu, para s surpresa de muitos, que deixou Greenwich Village porque havia lésbicas “machas demais” nas ruas. Molesworth, que se identifica como “queer”, diz respeitar a franqueza da pintora. Além disso, acrescenta, “creio que eu, ou qualquer artista que conheço, a teria levado facilmente a mudar de posição”.

'Talk Art'

Em “Talk Art”, um podcast gravado em Londres, o ator e colecionador de arte Russell Tovey e Robert Diament, músico que se tornou galerista, recebem artistas visuais conhecidos (pense em Kaws, Tracey Emin, Grayson Perry) e criadores e colecionadores famosos (Lena Dunham, Michael Stipe) para conversas longas e sem tema fixo. O podcast está sempre de olho nas tendências, oferece algumas fofocas, e ocasionalmente causa frustração pelas tangentes que não explora. Quando Kaws revela ter sido preso, será que o entrevistador não poderia tentar descobrir como e por que isso aconteceu?

'Awaye!'

Produzido pela rede de rádio e TV Australian Broadcasting Corporation, esse programa de rádio e podcast tem por foco a cultura aborígene e discorre sobre arte, música, teatro e cinema. Daniel Browning, que descende dos grupos étnicos bundjalung e kullili, estudou pintura e isso transparece em seus perfis vigorosos de artistas aborígenes contemporâneos que encurtam a distância entre as crenças tradicionais e a experimentação, em termos de crenças, processos e materiais. O podcast também é o lugar perfeito para obter informações sobre a Bienal de Sydney deste ano, que tem líderes indígenas pela primeira vez desde que a bienal começou, em 1973. (Até o momento, a mostra não foi cancelada, e fica em cartaz até 8 de junho.)

'In Other Words'

Produzido por uma divisão da casa de leilões Sotheby’s chamada Art Agency Partners e apresentada por Charlotte Burns, “In Other Words” se aproxima mais do que outros podcasts da intimidade e da sensação de inclusão que alguém sentiria se participasse de um jantar elegante promovido por uma galeria, sentado ao lado de um marchand ou curador prestigiado. Alguns episódios são temáticos, com foco, por exemplo, na ascensão da cena artística de Los Angeles (participei desse), ou no mito do progresso do mundo da arte quanto às questões de gênero (tema de uma grande investigação em 2019 que o podcast empreendeu em parceria com a Artnet). Mas, na maioria dos blocos, o que move o podcast são as personalidades, por meio de conversas entre a apresentadora e uma figura importante do mundo da arte, por exemplo o meganegociante David Zwirner ou o diretor do Museu Metropolitano de Arte de Nova York, Max Hollein.

'Dr. Janina Ramirez — Art Detective'

Em seus podcasts, Janina Rodriguez, doutora em história da arte, se apresenta como investigadora de objetos artísticos, ou “sua investigadora chefe de imagens”, mas age mais como uma professora universitária memorável —aquela que demonstra tamanho entusiasmo por seus tópicos que inspira o interesse dos alunos por cantos empoeirados da história da arte que de outra forma jamais os teriam intrigado. Sua especialidade acadêmica é a cultura medieval, e diversos dos episódios de seu podcast tratam desse tema. Ela convida acadêmicos para discutir o espantoso mosaico bizantino que mostra a imperatriz Teodora, na basílica de San Vitale, em Ravena, ou a reconstrução do Sttafordshire Hoard —um capacete que ela define como “talvez o mais empolgante achado arqueológico sobre a cultura anglo-saxã nos dez últimos anos”. E, sim, Ramirez é professora na Universidade de Oxford, e uma apresentadora muito popular de documentários sobre arte e arqueologia na BBC.

'What Artists Listen To'

Imagine se o sempre popular programa de rádio “Desert Island Discs”, da BBC, só tivesse artistas em sua lista de convidados, e com uma postura feminista, e o resultado seria parecido com “What Artists Listen To”. A artista londrina Pia Pack criou seu podcast logo que se mudou para Los Angeles, em 2017, como forma de explorar “as histórias e as trilhas sonoras da vida das artistas” e fazer amizade com as mulheres artistas de sua nova comunidade. Como o tradicional programa de rádio que pergunta que discos os convidados levariam com eles para uma ilha deserta (mas com engenharia de som menos refinada), cada episódio consiste em uma entrevista com uma artista entremeada de trechos de canções que a convidada escolhe. As artistas entrevistadas incluem Alison Saar, Alexandra Grant, Kim Schoenstadt, Shizu Saldamando e Galia Linn.

'The Sculptor’s Funeral'

Jason Arkles é um escultor figurativo americano que se radicou em Florença por causa de seu trabalho, e seu programa é um mergulho profundo nos gigantes do passado que o inspiraram, dos gregos da Antiguidade a Donatello e Michelangelo, e chegando a lendas modernas como Rodin. Um bom lugar para começar é o episódio 65, o primeiro de dois em que ele trata de Augustus Saint-Gaudens, o mestre da escultura em alto relevo do século 19 que deu ao público monumentos públicos e moedas que tinham a qualidade expressiva de desenhos em bico de pena. Trata-se do podcast em sua forma mais simples: uma voz e muita coisa a dizer.

'The Art Newspaper Podcast'

O The Art Newspaper é uma publicação londrina que traz artigos sobre arte internacional e criou um dos podcasts mais específicos do mercado. Apresentado por Ben Luke, o programa semanal não é um resumo dos artigos recentes da revista, mas uma oportunidade de ouvir especialistas discorrendo em profundidade sobre novos desenvolvimentos ou tendências. Um episódio recente teve uma entrevista com Marc Spiegler, diretor da Art Basel, quanto ao efeito do coronavírus sobre o mercado de arte, e outra com Catherine Wood, curadora da galeia Tate Modern, sobre o legado de Ulay, o fotógrafo e artista performático alemão que explorou por muito tempo as questões da “masculinidade” e da “vulnerabilidade”, e morreu em março.

'Momus: The Podcast'

Conversas mensais com artistas internacionais, críticos e curadores, organizadas pela revista online Momus, de Toronto, que se descreve, um tanto pretensiosamente, como o “o retorno da crítica de arte”. Mas o podcast, apresentado por Sky Godden e Lauren Wetmore, encontra o tom perfeito: reflexivo sem ser acadêmico e tanto analítico quanto poético. E os convidados incluem alguns artistas canadenses fascinantes, como a pintora "lenta" Margaux Williamson, que fala sobre como “o tédio e a paciência conduzem a coisas complicadas”.

'The Lonely Palette'

“Parece o Chrysler Building com uma travessa de frutas no topo”, diz um visitante do museu. “Se estou certo em imaginar que aquilo é uma figura humana, é alguém que está recluso e isolado”, acrescenta outro. Os dois estão descrevendo “Pillar” (1949-1950), uma escultura totêmica de Louise Bourgeois, e exemplificam a maneira pela qual Tamar Avishai gosta de começar seu podcast —pessoal, acessível mas ainda assim substancioso.

Ela pede que visitantes de museus descrevam determinadas obras e depois informa os ouvintes sobre o artista e sobre a feitura da peça. Muitas das obras em destaque, da escultura de Bourgeois a um retrato de Rembrandt, são parte do acervo do Museu de Belas Artes de Boston, do qual Avishai é a podcaster residente. E não, ela não planeja suspender o programa agora que os museus estão fechados. “Tenho muitas gravações acumuladas e tempo de sobra em mãos”, ela informou via email, “e por isso vou continuar produzindo durante esse período sombrio e estranho, para tentar explorar aquele espírito de #MuseumFromHome [museu em casa] e colaborar com outros criadores para produzir o máximo possível de conteúdo”.

Tradução de Paulo Migliacci

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