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Criador de 'Hora de Aventura' assina animação sobre drogas, morte e fé

Protagonista de 'The Midnight Gospel', nova série da Netflix, entrevista gente excêntrica em meio a cenário absurdo

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São Paulo

“The Midnight Gospel” não é uma animação comum. E isso nem se deve ao fato de a nova série da Netflix ser destinada ao público adulto. Mesmo entre os desenhos que miram os mais velhos, ela consegue se distanciar de muitas produções do gênero atualmente na televisão e no streaming.

É verdade que há altas doses de nonsense no roteiro, algo que parece ter se tornado comum na produção animada contemporânea —tanto na infantil quanto na adulta. Mas o absurdo está lá somente como um apoio para discussões altamente filosóficas.

Recém-lançada, “The Midnight Gospel” foi criada por Pendleton Ward, animador e roteirista por trás de “Hora de Aventura”, que encontrou sucesso com públicos de diferentes faixas etárias.

Assim como em sua antecessora, a nova série parte de uma premissa bizarra e apocalíptica. Nela, um rapaz chamado Clancy compra uma máquina que o transporta para planetas que estão morrendo. A ideia é criar um podcast em que entrevista os habitantes desses mundos fadados à destruição.

No primeiro episódio, ele conversa com um presidente durante uma invasão zumbi, no que parece ser uma Casa Branca genérica. Armados, batem papo como se nada estivesse acontecendo, atirando nos mortos-vivos que se aproximam e fazendo jorrar sangue para todos os lados. Em determinado momento, encontram uma grávida que, pouco depois de dar à luz, põe seu bebê num skate para conseguir fugir.

“Eu sou fascinado por zumbis, então eu sempre vou enfiar um zumbi na história”, brinca Ward. “Estruturalmente a série é bem livre, podendo ir para qualquer direção de acordo com as ideias que cada um quer pôr na história. Não queríamos escrever nada estruturalmente complexo, só absorvemos qualquer coisa que parecesse divertido de se desenhar.”

Mas o que realmente chama atenção no episódio não são as tripas voando no entorno dos personagens, e sim o teor de sua conversa. Quem dá voz ao presidente é Drew Pinsky, médico americano especializado em tratamento contra as drogas.

“Só para esclarecer, eu odeio essa ideia de drogas boas e drogas ruins. É uma substância química que não é boa nem ruim, ela só existe. O problema de fato é a relação que os humanos têm com essa substância”, diz ele no episódio.

Profundas, as conversas que se desenrolam ao longo da temporada de oito episódios parecem deslocadas com o que acontece em seu entorno, porque não foram exatamente pensadas para a série. Elas são importadas de um podcast da vida real, o “The Duncan Trussell Family Hour”, criado pelo comediante que batiza o programa.

“Uma amiga minha me contou sobre o podcast quando estávamos trabalhando em ‘Hora de Aventura’. E eu me interessei porque gosto de ouvir pessoas falando sobre filosofia, e o Duncan é muito divertido”, diz Ward.

Imagem da animação "Hora de Aventura"
Imagem da animação "Hora de Aventura" - Cartoon Network/Divulgação

Aquilo que é visto em “The Midnight Gospel” é uma mistura de conteúdo original e de episódios de podcasts pré-gravados. “Eu cortava os programas de duas horas para 20 minutos, para que nossa equipe pudesse inserir piadas e novos diálogos, que mais tarde seriam gravados e adicionados à conversa.”

A cada episódio, um especialista em alguma área é entrevistado pelo protagonista Clancy. Além de Drew Pinsky, também dá as caras, por exemplo, Anne Lamott, ativista e escritora americana que aborda alcoolismo, maternidade, depressão e religião em sua obra. Ela é incorporada por uma espécie de cachorro gigante com chifres, no segundo episódio.

A lista de convidados da atração ainda inclui Caitlin Doughty, escritora e agente funerária, e Damien Echols, que aos 18 anos foi apontado como líder de um grupo satanista e responsabilizado pelo assassinato de três crianças. Depois de ser condenado à morte em um julgamento marcado por irregularidades, ele foi inocentado.

Com personagens tão excêntricos, “The Midnight Gospel” acaba tendo à disposição um leque infinito de pautas. Drogas, morte, sexo, violência, fé, gênero e muitos outros assuntos são abordados nos episódios, envoltos pelo tom cômico e colorido dos desenhos de Ward.

“Duncan entrevista um monte de gente afável, que pratica a gentileza, e ouvi-los me guia”, diz o criador da série. “E eu gosto de pensar nesses assuntos. Olhar nos olhos da morte me ajuda a viver minha vida. Os podcasts de Duncan são uma bonita forma de arte e eu queria desenhá-los, criar um visual apimentado e suculento para que as pessoas vejam algo enquanto ouvem essas conversas tão bacanas."

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